Um dos operadores de mercado mais experientes do Brasil diz que a economia não está preparada para a explosão das taxas de juros na última semana, e que o Congresso está semeando uma recessão profunda.

Abaixo, sua conversa com o Brazil Journal.

“A gente sabia desde junho que o objetivo do Bolsonaro era R$ 400 no Bolsa Família, mas o mercado tem sempre o viés otimista…

Dez dias atrás, as pessoas achavam que era no máximo R$ 300.

11213 1cfd225b 5f04 29ce 244d c3536e4fe5eaAgora, dos males o menor:  essa ideia que está sendo ventilada hoje de ajustar o indexador do teto é boa, porque aí você limita o prejuizo.

O que está dado é que vão estourar em R$ 50 bilhões o teto antigo — isso, num PIB de quase R$ 10 trilhões é meio por cento. O problema é que, me perdoe a linguagem, depois que botarem a cabecinha, vai tudo.

Quando teve o episódio do Fundeb ano passado [a exclusão do Fundeb do teto], algumas pessoas alertaram para o problema, até porque o Fundeb é crescente, mas o mercado tava em outra vibe:  juro de 2% ao ano, ‘forward guidance’ do BC de que a taxa não subiria por muito tempo…

Agora o mercado está desancorado porque sabe que o poder está nas mãos dos políticos.

Agora, o movimento do juro foi rápido demais.

O DI 23, para daqui a um ano e dois meses, estava em 9% há uma semana, e bateu 10,55% no high de hoje.

Está tudo no preço? Não, porque ninguém sabe se quando chegar no Congresso vai aumentar pra R$ 500 ou R$ 600. O mercado tá desancorado porque sabe quem está mandando…

Em qualquer sistema normal, o Executivo dá as cartas do orçamento, e o Legislativo aprova.  Agora é o Congresso que tá fazendo o Orçamento.

E o custo político do juro mais alto não é pago pelo Congresso, porque o deputado fulano de tal não se sente responsável pelo resultado das suas decisões — e nem o eleitor dele o responsabiliza.

Esse juro tá muito alto porque, se ele se concretizar, você vai ter uma recessão profunda no Brasil.

Você saiu de 2% para 11% em um ano. É muito juro. A economia não está preparada para isso.

Além da inadimplência, quem vai fazer grandes investimentos no ano que vem com o custo do dinheiro nesse nível, a economia parada e um ano eleitoral?

O Congresso está começando algo que não tem ideia de como termina.”