O Santander foi o assunto do dia na Faria Lima – até a Petrobras anunciar seu dividendo monstro à tarde.

O banco abriu a temporada de resultados do setor financeiro com um lucro ‘ajudado’ por itens extraordinários: taxas menores de imposto e a reversão de provisões judiciais.

O lucro do banco no segundo trimestre ficou em R$ 4,08 bi, praticamente estável em relação ao primeiro tri (+2%), e o retorno sobre o patrimônio (ROAE) ficou em 20,8%.

No entanto, um olhar mais atento sobre os números colocou essas linhas em xeque.

As despesas com PDD cresceram 24,6% e houve uma piora substancial na margem financeira líquida, que encolheu 24,6% em relação ao primeiro tri – o que não parece conversar com o patamar de rentabilidade reportado.

A explicação para o resultado à primeira vista positivo está na carga tributária menor, de cerca de 16% ante uma carga histórica perto de 34%; e também na reversão de provisões judiciais. O Santander deu pouco disclosure sobre essa reversão de provisões, refletida na linha de despesas operacionais, que tiveram redução de 78% para R$ 1,5 bi no trimestre.

Nas contas do JP Morgan, excluindo esses itens ‘não recorrentes’, o ROE do Santander no trimestre teria ficado entre 10-11%.

Também chamou a atenção dos analistas o aumento de 14,9% na carteira renegociada no trimestre, que alcançou R$ 32 bi. O aumento da renegociação explicaria, segundo analistas, porque o NPL do Santander Brasil ficou ‘de lado’.

O NPL de 90 dias ficou em 2,9%; e o NPL de 15-90 dias foi de 4,2%, ambos estáveis.

No entanto, chamou a atenção do mercado o fato de o balanço do Santander na Espanha ter mostrado um crescimento mais expressivo no NPL da operação brasileira, que passou de 5,68% no primeiro tri para 6,34% no segundo.

O Santander Espanha divulga os resultados pelo padrão IFRS (que trabalha com as perdas esperadas), enquanto o banco no Brasil reporta pelo BR GAAP (que só lança as perdas já realizadas).

“Pelo padrão brasileiro, quando o banco renegocia, o crédito deixa de estar atrasado e volta a ficar em dia. Então não é obrigatório provisionar. Mas no IFRS, o banco é obrigado a provisionar pela perda esperada, mesmo não estando em atraso,” disse um gestor. “O que você precificou de risco para realizar aquela operação, você antecipadamente deve provisionar no balanço.”

No BTG, o time do analista Eduardo Rosman acredita que a estabilidade nos NPL de 15-90 dias sugere que poderá haver pressão nesse indicador nos próximos trimestres, “dado que geralmente ele sobe no primeiro trimestre e cai no segundo, devido à sazonalidade.”

A unit do Santander fechou o dia em alta de 2,5% – em linha com o rali generalizado dos mercados.