A bomba da Americanas começou a aparecer no balanço dos bancos, com o Santander Brasil provisionando 30% de sua exposição e reportando um resultado bem abaixo da estimativa do mercado.
O lucro líquido do quarto tri ficou em R$ 1,7 bilhão, 38% abaixo do consenso e uma queda de 56% na comparação anual.
Com o lucro minguando, o ROE despencou de 15,3% no terceiro trimestre para 8,3% ao final de dezembro. Para se ter uma ideia, a Goldman Sachs esperava um ROE de 13,4%, e o JP Morgan, de 14,3%.
Para um analista, o ROE recorrente da empresa deveria ter sido ainda menor, porque o Santander se beneficiou de um crédito tributário no trimestre.
“Se aplicássemos a alíquota efetiva média do Santander, que é de uns 35%, o lucro teria sido de R$ 1 bilhão, o que dá um ROE de uns 5%,” disse ele.
O Santander também viu sua margem financeira bruta cair 0,6%, e sua margem financeira líquida (após as provisões) despencar 19,3%. A receita de serviços cresceu só 2%, enquanto o opex subiu 7%.
A inadimplência teve uma leve alta, com o NPL de 15 dias subindo 0,2 pontos percentuais e o NPL de 90 dias subindo 0,1 ponto.
Sem dar detalhes sobre o assunto, o Santander deu a entender que provisionou o caso da Americanas no nível E, que exige provisões de 30% do crédito.
Para analistas, como a empresa pediu recuperação judicial, o mínimo que deveria ter sido provisionado era 50%, mas os bancos normalmente provisionam até mais, em torno de 70%.
“Eles fizeram isso para não impactar tanto esse trimestre. Mas o esperado é que no primeiro tri eles provisionem mais uns 40% dessa exposição de R$ 3,5 bilhões,” disse um analista.
Como o primeiro banco a reportar, o Santander está dando o tom do que os outros bancos devem fazer nas próximas semanas – começar a provisionar a Americanas já no quarto tri – mas em alguns deles é provável que o provisionamento seja maior que os 30%.
Além do impacto da Americanas, o resultado do Santander também teve outros problemas. A margem financeira caiu em parte por conta da estratégia de descasamento de ativos e passivos que o banco adotou entre 2020 e 2021.
Com Selic muito baixa naqueles anos, o banco tomou muito funding a taxas pós-fixadas, ao mesmo tempo em que deu crédito a taxas pré. Enquanto a Selic estava baixa, o Santander ganhou dinheiro com a estratégia – mas quando o juro subiu, o resultado virou.
“Eles também fizeram hedge do capital em IPCA e não em CDI. Como tivemos períodos de deflação, isso machucou o resultado da tesouraria,” disse um analista.
Na call com o mercado hoje cedo, o CEO Mario Leão disse que as novas safras estão vindo “melhores que aquelas que estávamos produzindo há três, quatro trimestres.”
“Temos que entender que o mercado é cíclico,” disse Mario. “Estamos gerenciando o banco através dos ciclos e não para este trimestre ou o próximo. Hoje, o ciclo está gerando pressão na receita, mas estamos melhorando na qualidade do risco.”
Desde o final de 2021, segundo ele, o Santander está sendo bem mais seletivo em termos do apetite de risco e do rating das novas safras.
Apesar de melhorar a qualidade da carteira, “o modo risk-off está machucando a margem financeira líquida, enquanto as perdas com provisões continuam com uma tendência de alta, o que deve continuar pressionando o ROE em 2023,” escreveu Eduardo Rosman, do BTG.
“Por conta dessa política de maior seletividade, um maior foco em linhas de crédito colateralizadas e menos dias de trabalho, o spread médio dos empréstimos caiu 0,52 pontos, para 10,2%.”
Com o resultado fraco, o BTG rebaixou o Santander para ‘venda’, dizendo que “depois de anos de forte crescimento, o banco parece agora estar ‘pagando as contas’.”
O Santander negocia a 7,5x seu lucro estimado para o ano que vem e a 1,1x seu valor patrimonial.
A ação do Santander oscila entre altas e baixas na manhã de hoje. Por volta de 13hs, o papel sobe 0,7%.
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