A SABMiller tem hoje todos os incentivos para comprar a Cervejaria Petrópolis, fabricante da Itaipava e dona de 15% do mercado, diz Carlos Laboy, analista que cobre o setor de bebidas há mais de 20 anos e agora está no HSBC.
Laboy detalhou sua tese num relatório para clientes publicado ontem.
Ele acha que uma compra da Petrópolis pela SABMiller seria ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para a Ambev.
Para explicar, ele cita uma frase do lendário CEO da SABMiller, Graham Mackay, já falecido: “O trabalho do líder de mercado é fazer crescer o mercado. O trabalho do No. 2 é ganhar mercado.”
Diz Laboy: “A Ambev tem 70% do mercado brasileiro de cervejas de acordo com o Nielsen, e se crescer mais o CADE pode vir pra cima dela. O trabalho do líder é crescer o mercado, mas a Ambev não consegue fazer isso se não tem ninguém com uma boa estratégia para dividir o mercado com ela. A SABMiller ajudaria a criar estas condições.”
A Brasil Kirin, dona da Schincariol, viu seu volume de produção cair mais de 50% nos últimos 18 meses.
A Kaiser, que em tempos remotos já teve relevância nacional, hoje tem 5% de share no mercado de cervejas porque o sistema Coca-Cola nunca teve os incentivos necessários para se dedicar de corpo e alma à distribuição.
“Para cada sete novos engradados de cerveja que a Ambev produzir, alguém tem que poduzir outros três” para manter o ‘share’ da empresa constante, diz Laboy. “Mas hoje, nenhum dos players que estão aí têm os recursos — a logística, o dinheiro — para fazer isso.”
Para ele, a recente ênfase da Ambev em cervejas premium é em parte um sinal dessa limitação regulatória para crescer no mercado de cervejas. “O segmento premium é uma coisa importante, que você tem que ter, mas não pode ser sua principal fonte de crescimento. O crescimento tem que vir do mercado da cerveja comum, e ainda há uma enorme oportunidade de crescer volumes no Brasil, particularmente no Nordeste,” diz ele.
A SABMiller já conhece bem a Petrópolis. As duas cervejarias fizeram um acordo de distribuição em outubro de 2014. “Você não acha que a SABMiller fez este acordo só pra vender suas marcas premium no Brasil, né?” diz o analista.
Além de ter a Itaipava, a quarta marca de cerveja mais importante do Brasil, a Cervejaria Petrópolis, ao contrário dos outros concorrentes da Ambev, é dona de sua própria distribuição (tem caminhões e força de vendas). A cervejaria opera hoje perto de sua capacidade máxima e está endividada. Uma compra pela SABMiller permitiria à empresa construir novas fábricas e elevaria o seu marketing ao estado da arte, já que a SABMiller é reconhecida como uma das melhores gestoras de marcas do mundo e tem experiência em mercados em desenvolvimento.
Para ele, o desembarque da SAB na Petrópolis responderia a seguinte pergunta: “As marcas da Ambev estão prontas para a briga, ou estão cansadas, chatas e sem desafios?”
Diz uma fonte do setor de cerveja: “Vamos ver se isso mudaria o jogo mesmo. Quando a FEMSA comprou a Kaiser, muita gente dizia, ‘agooora as coisas vão mudar para a Ambev.’ E o tempo mostrou que não era bem assim.”