Num movimento estratégico que aprofunda a consolidação no mercado de saúde, a Rede D’Or anunciou que está criando uma joint venture com a Atlântica Hospitais — a rede hospitalar da Bradesco Seguros — aproximando dois grupos que pareciam em rota de colisão.

Inicialmente a JV vai investir em três projetos greenfield já em construção e dois outros ainda em desenvolvimento.

A Rede D’Or terá 50,01% do capital da JV, o que vai lhe permitir consolidar a empresa em seu balanço, e também fará a gestão administrativa dos hospitais. 

boopo paulo mollO acordo envolve o Hospital Macaé D’Or, o São Luiz Alphaville e o São Luiz Guarulhos — que já estão em fase avançada de construção e tem previsão de entrega para o segundo semestre. 

O capex total para a construção dos três hospitais gira em torno de R$ 1,1 bilhão; cerca de metade disso já foi desembolsado pela Rede D’Or.

O movimento é a mais nova evidência de que o mercado de saúde caminha para uma consolidação onde só restará espaço para operadoras e redes hospitalares de grande escala.

O anúncio pegou o mercado de surpresa; nenhum analista especulava que dois grupos deste porte — líderes em seus respectivos mercados — pudessem se aproximar. 

A leitura de alguns analistas, inclusive, era na direção contrária: de que poderia haver um acirramento da disputa entre os dois grupos hospitalares.

“Já havia um movimento por parte da Bradesco Seguros de não credenciamento de alguns hospitais novos da Rede D’Or, como o São Luiz Campinas,” disse um analista do sellside. “Agora, eles conseguiram resolver essa questão, trazendo o Bradesco para ser parceiro desses hospitais novos.”

Esse analista nota que para um hospital atingir o breakeven, ele precisa operar com pelo menos 60% de ocupação.

“O Bradesco Seguros representa hoje mais ou menos 25% da base da Rede D’Or, e a SulAmérica a mesma coisa. Então sem ter o Bradesco junto, o tamanho do mercado endereçável deles caía muito.”

Para a Atlântica, esse tipo de aliança faz parte de sua estratégia de crescimento. A rede já fez um acordo semelhante com a Rede Mater Dei para a construção de hospitais em São Paulo, e está construindo um novo hospital, também em São Paulo, junto com o Hospital Albert Einstein.

Além dos três hospitais já em construção, a Atlântica D’Or (como a nova JV foi batizada) será dona de dois outros hospitais, em Taubaté e Ribeirão Preto, que ainda estão na fase do projeto executivo. 

O CEO da Rede D’Or, Paulo Moll, disse ao Brazil Journal que o acordo não inclui nenhuma exclusividade para novos projetos, mas que “naturalmente” a companhia vai avaliar a inclusão na JV de novos projetos.

Moll notou ainda que a relação comercial da Rede D’Or com a Bradesco Seguros — que já existe há décadas — já era muito relevante.

A Rede D’Or é o maior prestador de serviços da Bradesco Seguros, que por sua vez é o maior cliente dos hospitais da D’Or. 

O acordo vem num momento de forte consolidação do setor de saúde, com a Amil sob novo controle, a Dasa buscando um caminho estratégico para sua desalavancagem, e o setor como um todo sofrendo com uma alta sinistralidade e dificuldade de repassar preço, o que coloca hospitais menores numa posição de fragilidade. 

Moll disse que Bradesco e Rede D’Or convergem na visão de que o Brasil precisa aumentar sua base de hospitais de alta qualidade. Segundo ele, enquanto um hospital no Brasil tem em média 60 leitos, nos Estados Unidos o hospital típico tem 135.  

Moll disse que nos ultimos 10 anos o Brasil perdeu 500 hospitais em termos líquidos — tipicamente hospitais de baixa escala que não conseguiram se manter competitivos.

A aliança entre os dois grupos acontece num momento em que a ação da Rede D’Or sobe 20,9% nos últimos 12 meses. A companhia vale R$ 67,5 bilhões na Bolsa.