O Governo do Paraná acaba de dar mais um passo para a privatização da Celepar, uma govtech cujos mais de 35 aplicativos automatizam diversos serviços públicos no Estado. 

A Secretaria de Inovação e Inteligência Artificial colocou no ar hoje um data room com informações técnicas, financeiras e operacionais da Celepar, que ficarão disponíveis a potenciais investidores até novembro.

Os interessados precisarão fazer um depósito caução de R$ 350 mil para acessar os dados.  O Bradesco BBI é o assessor financeiro da Celepar.

O data room começa nove meses depois da aprovação da lei estadual que autorizou a desestatização da Celepar – sob forte pressão da oposição do Governador Ratinho Júnior.  

O secretário de inovação Alex Canziani disse ao Brazil Journal que a meta do governo é que o processo de desestatização seja encerrado até o fim do ano. 

Segundo ele, os interessados no ativo incluem players nacionais e estrangeiros. “Vemos um potencial da Celepar ser a mais importante govtech da América Latina,” disse. 

Segundo o secretário, a Celepar teve um choque de gestão desde que Ratinho Júnior assumiu o governo em 2019. 

Paraná Copel

Canziani disse que antes da atual gestão a Celepar vivia praticamente de uma mesada do governo. Embora fosse uma empresa de economia mista, era vista como uma autarquia internamente.

A Celepar (acrônimo para Centro Eletrônico do Paraná) foi fundada em 1964 para gerir a folha de pagamento do Estado, e foi uma das primeiras estatais brasileiras a usar computadores para atender o governo e os funcionários públicos.

Mas já na virada do milênio, tornou-se mais uma estatal a ter problemas para fechar as contas. Os contratos com o governo estavam sem controle, e os serviços prestados podiam até funcionar, mas eram impossíveis de escalar.

Nos últimos anos, o governo deu um choque de gestão na companhia. A partir de 2019, o Conselho das Estatais do governo paranaense determinou que as companhias públicas e de economia mista deveriam viver com os seus próprios recursos.

A empresa começou a se mexer. Houve um esforço interno para profissionalizar a gestão e os contratos. “Os contratos começaram a refletir práticas: só se paga o que se consome, pois era comum a Celepar atender demanda sem contrato,” disse o secretário. 

A Celepar começou também a criar ferramentas que poderiam ser escaláveis – e a melhorar o que já tinha. Hoje boa parte do faturamento da companhia vem da prestação de serviços ao Detran, onde foi responsável por renovar ou emitir 1 milhão de CNHs, além de ter criado soluções como o emplacamento 100% digital e a autobiometria facial. 

Resultado: a empresa viu sua receita crescer 75% de 2021 para 2024, chegando a R$ 495 milhões.

No mesmo período, o EBITDA mais que quadruplicou, para R$ 151 milhões, e a margem saltou 18 pontos percentuais para 30,6%. 

O bottom line, por sua vez, multiplicou por sete em quatro anos e chegou a R$ 132 milhões. Hoje a Celepar é a segunda maior empresa estadual de TI do País, atrás apenas da Prodesp, do governo de São Paulo.

Segundo o governo, a margem líquida da Celepar no ano passado foi de 26,8%, maior que a de empresas como Totvs e Stefanini.

O vencedor da licitação vai levar também uma série de contratos com o governo. São R$ 2,6 bilhões em 134 contratos ativos.

Metade da receita da Celepar vem dos serviços prestados ao Detran PR (23%), à Secretária da Fazenda (16%) e à Secretaria de Segurança Pública (11%). 

Além disso, 10% do faturamento vem dos serviços de Gestão de Infrações de Trânsito do estado, que foi desenvolvido pela própria Celepar. A transformação digital do sistema de multas já é adotado por 35 municípios do estado e substituiu processos físicos por uma plataforma digital integrada.

Com a ferramenta, a Celepar conseguiu diminuir o prazo para resposta dos pedidos de revisão de multas de 750 dias para apenas 7. 

“Por causa desses números, muita gente acaba perguntando: se a empresa está bem, por que vender? Eu respondo porque eu acho que há ainda muito mais potencial para a Celepar,” disse o secretário.

Além da Celepar, no Governo Ratinho Júnior o Paraná já vendeu uma fatia de 15% que tinha na Copel – transformando a empresa numa corporation – e a Compagas para a Compass, do grupo Cosan.

A próxima a entrar na lista deve ser a Ferroeste, que administra 248 quilômetros de ferrovias entre as cidades de Guarapuava e Cascavel.