Num grande passo para colocar de pé sua tese do etanol de segunda geração (E2G), a Raízen acaba de assinar um contrato de € 3,3 bilhões para fornecer mais de 3,3 bilhões de litros para a Shell, que controla a companhia junto com a Cosan.
Para atender a demanda, a Raízen vai construir cinco novas plantas de etanol celulósico – um capex de R$ 1,2 bilhão por planta.
O investimento será feito em parte com o caixa de R$ 6,9 bilhões que a Raízen levantou no IPO em agosto de 2021, mas a parte mais significativa deverá ser feita com project finance.
O anúncio de hoje deve ajudar a reduzir o ceticismo do mercado, que hoje atribui zero de valor à estratégia de E2G da companhia – seja pelo alto capex envolvido, seja pela incerteza sobre quanto tempo o atual prêmio do E2G irá durar.
A ação da Raízen, que saiu a R$ 7,40 no IPO, hoje negocia abaixo de R$ 5.
O contrato também acelera a meta que a Raízen se auto-impôs no IPO. Quando as novas usinas ficarem prontas – entre 2025 e 2027 – a companhia passará a ter nove plantas de E2G. A promessa no IPO era fazer até 20 plantas em 10 anos.
O CEO Ricardo Mussa disse ao Brazil Journal que está negociando outros contratos do tipo com empresas na Europa, Califórnia e Japão.
O contrato com a Shell trava um preço mínimo pelo etanol da Raízen e prevê um ajuste de preço vinculado à cotação de mercado quando da entrega do produto. (Se o preço de tela estiver acima do preço mínimo, a Raízen e a Shell dividirão o prêmio.)
O E2G é produzido a partir do bagaço de cana – um resíduo da produção de açúcar e de etanol de primeira geração (E1G). Ele é considerado um “biocombustível avançado” – ou seja, aquele cuja produção não compete com a produção de alimentos, evitando o dilema ‘food or fuel’.
O produto não é uma commodity. Tem alto valor agregado, margens mais altas que o etanol de primeira geração, e seu preço dobrou ao longo do último ano.
Na época do IPO da Raízen, o E2G negociava a US$ 700-800 por metro cúbico. Hoje, no mercado spot, sai acima de US$ 1.300-1.400 por metro cúbico. Analistas dizem que, como a construção das plantas demanda tempo, é impossível saber se o prêmio estará lá quando as plantas ficarem prontas.
“Esses contratos vão garantir um retorno adequado a essas plantas,” disse Mussa. “Uma vez depreciadas, elas têm um custo de operação muito baixo.”
O principal uso do etanol de segunda geração é na aviação comercial, dado que a União Europeia criou mandatos que incentivam o uso de sustainable aviation fuel (SAF). Há também aplicações industriais: o E2G é matéria-prima para a produção do chamado ‘plástico verde’.
O E2G emite 80% menos gases do efeito estufa que os combustíveis fósseis, 70% menos que o etanol de milho norte-americano e 30% menos que o etanol de 1ª geração.
A Raízen é dona da tecnologia e estuda licenciá-la a terceiros mais adiante para alavancar ainda mais seu retorno.