A Genial Care — uma startup que atua no tratamento de crianças com autismo — acaba de levantar R$ 35 milhões numa rodada liderada pelo General Catalyst, a gestora americana de venture capital especializada em healthtechs.
A rodada vai permitir à Genial Care dobrar seu número de clínicas, abrindo mais cinco e chegando a dez unidades em São Paulo no final deste ano.
A captação vem num momento positivo para a startup, com os planos de saúde buscando alternativas para reduzir seus custos com o tratamento de autismo depois que a ANS incluiu a condição no rol de tratamentos obrigatórios.
Há duas semanas, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) publicou uma pesquisa que mostra que no ano passado o custo com os tratamentos com autismo superou o custo com o câncer, historicamente o principal custo dos planos de saúde.
Segundo esse estudo, os tratamentos com autismo e outros transtornos globais de desenvolvimento responderam por 9% dos custos médicos, em comparação a 8,7% do câncer.
“Isso acontece porque a maior parte das clínicas no Brasil hoje são pequenas, sem tecnologia e sem aderência aos protocolos e padrões de boas práticas,” disse o fundador da Genial Care, Kenny Laplante, um americano que se mudou para o Brasil em 2017 depois de se casar com uma brasileira.
Com a Genial Care, Kenny está tentando replicar no Brasil uma tese que ele desenvolveu nos Estados Unidos, quando trabalhava como investidor de private equity na General Atlantic.
Na época, ao redor de 2015, ele investiu na ACES, uma startup que tem um modelo parecido com o da Genial Care — mas menos turbinado.
“A Genial Care é um passo adiante do que fizemos com a ACES, já que a ACES não tinha muito investimento em tecnologia e não tinha a parte da capacitação dos terapeutas, que é muito importante,” disse ele.
A Genial Care cria suas clínicas — em geral com 15 a 20 salas de atendimento — e trabalha com terapeutas parceiros que fazem o atendimento das crianças. Antes de atuar com a startup, esses terapeutas precisam passar por um treinamento na Genial Academy, a plataforma de cursos online da companhia.
Para crescer, a startup tem focado basicamente nos planos de saúde, que hoje respondem por mais de 90% da receita da companhia. Ela trabalha com planos como a CarePlus, Porto Seguro, Amil One, Alice e Unimed, que juntos têm mais de 1 milhão de vidas cobertas.
Kenny disse que a Genial Care está em negociação com outros cinco planos e pretende dobrar o número de vidas cobertas ao longo deste ano.
Para os planos, o grande benefício de trabalhar com a Genial Care é a redução dos custos, e uma maior previsibilidade.
Segundo o fundador, enquanto as clínicas tradicionais costumam fazer 40 horas de terapia por semana com as crianças autistas, as clínicas da Genial Care fazem em média 10 horas por semana de tratamento por paciente.
“Fazemos menos, e com resultados melhores,” disse o empreendedor. “Além dos protocolos, estamos usando algoritmos de IA para ajudar os terapeutas a atenderem com a melhor qualidade e eficiência possível.”
Outra vantagem para os planos é que a Genial Care precifica num modelo de compartilhamento de risco.
Ela cobra um preço fixo para o plano que é determinado de acordo com o nível de suporte que a criança vai precisar. “Se o custo real do atendimento for maior do que isso, a gente arca com essa diferença. Se for menor, a gente também ganha o adicional. É uma forma de alinhar incentivos e aumentar a confiança no que estamos fazendo.”
A rodada de hoje foi bancada basicamente por investidores que já estavam no cap table da Genial Care.
Além da General Catalyst, que havia liderada a Série A da startup em janeiro do ano passado, participaram da captação a Atlântico, Canary, IKS e o SSV, além dos investidores-anjo Mauro Figueiredo (o ex-CEO do Fleury e da Odontoprev), e João Alceu Amoroso Lima (ex-presidente da Fenasaúde e ex-CEO da Qualicorp e SulAmérica).
Kenny disse que a rodada vai permitir que a startup tenha fôlego para atingir o breakeven, o que está previsto para acontecer no início de 2025.
Para isso, ela precisa basicamente de mais escala. O empreendedor explica que a margem EBITDA da operação (excluindo as despesas fixas com overhead) já é positiva.
Conforme a empresa for crescendo, as despesas com o overhead serão diluídas, levando o balanço para o azul.