O vetusto Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho — o velho Pacaembu — vai em breve mudar de nome.

A Allegra — o consórcio que ganhou a concessão de 35 anos — acaba de mandatar a XP para a venda dos naming rights do empreendimento, o movimento mais recente de um projeto ambicioso de transformar o icônico estádio paulistano num complexo multiuso com escritórios, lojas, restaurantes e uma arena de e-sports. 

A Allegra pagou R$ 111 milhões pela outorga do estádio — que também inclui um centro de tênis, uma piscina olímpica e um ginásio poliesportivo — e vai investir outros R$ 300 milhões nos próximos anos na reestruturação e renovação do espaço.

A mudança mais visível será a demolição do chamado ‘tobogã’ (a área da arquibancada dedicada aos ingressos mais baratos) para dar lugar a um edifício de nove andares — cinco acima do solo e quatro submersos. 

O prédio vai abrigar escritórios comerciais, lojas conceitos, espaços gastronômicos e um centro de convenções no subsolo. Em outra frente, a Allegra está construindo uma arena de e-sports embaixo das arquibancadas centrais do estádio, que será gerida pela BBL — uma holding especializada no universo gamer. 

“Nos anos 1940, o Pacaembu foi criado como um espaço de cultura, esporte e lazer, não só um estádio,” Eduardo Barella, o CEO da Allegra, disse ao Brazil Journal. “Queremos resgatar essa finalidade. O futebol sempre vai ser importante, mas o Pacaembu vai ser muito mais do que isso.”

A Allegra quer vender namings rights tanto para o complexo inteiro quanto para setores individuais, como o centro de tênis, a piscina, e a arena de e-sports.

A empresa que comprar os namings rights terá direito de incluir sua marca no nome do estádio, colocar propagandas em diversos locais do complexo, além de ganhar um pacote de contrapartidas (que inclui o direito de uso do camarote, assentos VIP no estádio e uso dos espaços de eventos). 

O roadshow, que começa esta semana, vem um mês depois da Rede Globo mudar sua política e começar a citar o nome do patrocinador dos estádios em suas transmissões ao vivo. 

A Allegra pretende conversar com companhias de diversos perfis — de bancos e farmacêuticas até empresas de tecnologia.

No Brasil, os dois contratos mais recentes envolvendo estádios foram o Itaquerão — que a Hypera vai rebatizar como Neo Química Arena — e o estádio do Palmeiras, que passou a se chamar Allianz Parque em 2014. O preço de ambos: R$ 300 milhões, ainda que os detalhes dos contratos não sejam públicos.

Os contratos tipicamente são de 20 anos, com parcelas anuais e gatilhos atrelados a desempenho.

Em Belo Horizonte, a Racional Engenharia está construindo o novo estádio do Clube Atlético Mineiro num terreno doado pela família Menin, controladora da MRV. A incorporadora pagou R$ 60 milhões por um contrato de 10 anos, com opção de renovação por mais cinco. 

A Allegra é controlada pela Progen, uma empresa de engenharia com 30 anos de mercado, e pelo FIP Savona, um fundo criado para reunir diversos investidores do projeto. 

Com as reformas estruturais, o Pacaembu ficará fechado pelos próximos três a quatro anos, com apenas uma infraestrutura provisória funcionando para eventos de e-sports. 

Quando voltar a funcionar, a expectativa da Allegra é que dois terços da receita venha dos aluguéis do edifício multiuso e de eventos. Os jogos de futebol devem responder por 12%, e o restante será dividido entre as receitas de mídia, estacionamento, e venda de alimentos e bebidas. 

A projeção da empresa é que o projeto chegue ao breakeven já no primeiro ano de operação (2024), mesmo considerando os custos da dívida. O payback do investimento está previsto para o nono ano, e a concessão dura até 2055.