A ação da Ambev está despencando na Bovespa por medo de que a empresa seja convocada por sua controladora, a Anheuser-Bush InBev (ABI), a dividir a conta da compra da SABMiller.
Como se sabe, a SAB aceitou hoje cedo uma oferta de 106 bilhões de dólares feita pela ABI.
O grande risco para a Ambev é que a ABI decida que os negócios da SAB na América Latina serão comprados pela Ambev. Seria uma forma de diminuir a dívida que a própria ABI terá que tomar para concluir a transação, e, dependendo do preço que a Ambev tiver que pagar, uma forma inteligente de usar o balanço da empresa, que hoje não tem dívida.
Como a América Latina responde por 33% da geração de caixa operacional (uma métrica conhecida como EBITDA) da SAB, em tese, os negócios da SAB na região valem cerca de 35 bilhões de dólares.
Obviamente, este cálculo é uma mera aproximação, já que, quando avaliadas separadamente, cada região em que a SAB opera deveria ter um valor (um ‘múltiplo’, no jargão do mercado) diferente.
Por exemplo, regiões de maior crescimento e onde há menor concorrência deveriam valer mais que as outras.
Como a Ambev vale em Bolsa 75 bilhões de dólares, isso equivale a dizer que ela teria que pagar metade de seu valor de mercado para adquirir as operações da SAB na Colômbia e no Peru, os principais mercados da SAB na região. Para pagar essa conta, ou a Ambev teria que tomar empréstimos ou emitir novas ações — ou fazer um pouco das duas coisas.
Nos últimos 12 meses, a geração de caixa da ‘SAB América Latina’ (EBITDA) foi de 2,5 bilhões de dólares.
Se a Ambev tiver que pagar os 35 bilhões de dólares da hipótese acima, isto significaria que a ‘SAB América Latina’ custaria, portanto, 14 vezes sua geração de caixa.
Como a ação da Ambev negocia a 10 vezes a sua geração de caixa, isto seria um ágio de 40% — o que destruiria valor para os acionistas da cervejaria brasileira.
“E seria difícil argumentar que ela tem muito a ganhar na Colômbia, porque a SAB já tem 98% do mercado lá,” diz um gestor.
Numa nota a investidores hoje cedo, o Bradesco disse ‘acreditar fortemente’ que a ABI não envolverá a Ambev na compra da SAB. O analista do banco citou três razões para isto: o endividamento da ABI seria facilmente administrável, a ABI pode extrair sinergias na América Latina mesmo sem fundir o negócio da SAB com a Ambev, e, finalmente, o envolvimento da Ambev poderia criar conflitos com os minoritários no Brasil — muitos dos quais são executivos da empresa.
O mercado, no entanto, discorda desta visão, e bateu forte na ação ao longo do dia. A meia hora do fechamento, a Ambev negociava em queda de 6%. É o medo do desconhecido.
Na fusão da Ambev com a Interbrew em 2004, a Ambev foi obrigada a comprar a operação da Interbrew no Canadá, a Labatt.
O alto preço pago pela Labatt foi questionado pelos minoritários e visto pelo mercado como uma forma de compensar a Interbrew pelo alto prêmio de controle pago pelas ações dos controladores e dos detentores de ações ON da Ambev (que, pelo estatuto, receberam 80% do valor dos controladores em dinheiro). Quem pagou a conta, à época, foram os detentores da ação PN, sem direito a voto, que não receberam oferta nenhuma e pagaram ‘caro’ pela Labatt.
De lá para cá, a Ambev melhorou sua governança unificando as duas classes de ação. Porém, na visão do mercado, isso não eliminou o risco de que os minoritários paguem a conta de novo.