Bastou um deal para que a Mapa Capital — um spinoff de capital solutions e investimento proprietário da antiga Mauá — saltasse de boutique desconhecida ao posto de controladora das Casas Bahia (e alvo de interesse do mercado).

Ao promover a conversão de R$ 1,6 bilhão em dívidas da varejista em junho, a Mapa passou a ter 85% da empresa fundada por Samuel Klein — e deixou a Faria Lima especulando sobre as intenções por trás do movimento.

“Nosso interesse é na empresa, não na dívida,” André Helmeister e Fernando Beda, os sócios-fundadores da Mapa, disseram ao Brazil Journal. “Buscamos companhias que tenham razão de existir e potencial de destravar valor para ajudá-las a alcançar isso.”

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Helmeister, Beda e Paulo Silvestri, o terceiro sócio-fundador da Mapa, se conheceram em 1988 quando eram trainees no Banco Francês e Brasileiro.

Dos três, Silvestri tem a trajetória menos convencional: mudou-se para a Alemanha depois de passar pelo BFB e fez carreira na Daimler — hoje Mercedes-Benz Group — alcançando o posto de CEO do grupo na América do Norte. Ao retornar ao Brasil, foi ainda diretor de private equity da Rio Bravo por três anos. 

André Helmeister, por sua vez, saiu do BFB para o BBA e lá ficou mais de 15 anos. Foi o responsável pela abertura do banco na Argentina e atuou nas áreas de corporate e investment banking no Brasil e na Europa.

Fernando Beda também trabalhou no BBA por mais de uma década. Depois foi para a Mauá criar o negócio de capital solutions — a Mauá Participações, ou Mapa — que foi comprada pelos três amigos em 2013.

“Nós já investíamos em empresas e decidimos que queríamos fazer isso juntos,” disse Beda. “Estávamos pensando em alugar um escritório, mas eu os convidei para me ajudarem a tocar o negócio na Mauá. Pouco tempo depois, compramos o CNPJ e o business.”

Com bom trânsito nos bancos e know-how de operação, os sócios dizem que buscaram se posicionar como “tradutores” da visão do mercado para empresas de médio porte, assessorando-as em suas demandas de capital.

Esta era a principal atividade da Mapa inicialmente, mas o trio logo começou a fazer investimentos com dinheiro próprio e evoluiu o modelo de negócio.

A Bioactive — uma empresa de biotecnologia focada em regeneração óssea — é a única tese que se mantém no portfólio desde 2013. O case mais famoso da época é o Guiabolso (a fintech de planejamento financeiro), startup em que os gestores entraram na primeira rodada de funding.

“Chegamos a ‘ficar milionários’ após a empresa alcançar um valuation de US$ 275 milhões, mas acabamos recebendo moedas na venda para o PicPay. A gestão perdeu o timing para monetizar o negócio, que acabou perdendo o seu valor,” disse Helmeister.

Hoje o negócio de equity da Mapa se tornou bem maior que o de assessoria, tendo movimentado R$ 3 bilhões em deals. Do todo, mais de metade (R$ 1,6 bi) foi originado na operação de Casas Bahia, o que resultou na participação de 85% na empresa.

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“Olhamos para a debênture e pensamos no que aconteceria na empresa se essa dívida fosse convertida. A partir daí desenvolvemos a tese, conseguimos os recursos e convencemos os credores de que o deal seria bom para eles,” disseram os sócios, sem detalhar como remuneram os bancos.

As operações da Mapa são viabilizadas com recursos próprios e funding captados junto a investidores institucionais em uma estrutura de club deal. Os participantes podem variar de negócio para negócio, mas a gestora sempre fala com um grupo restrito de investidores parceiros. 

O que também muda de caso a caso são as decisões sobre injeção de capital de giro e de interferência na gestão das empresas. No caso das Casas Bahia, a Mapa concluiu que a varejista possui um problema de balanço, e que o de gestão foi resolvido em 2023 com a entrada do CEO Renato Franklin.

“Acreditamos na gestão que está lá, então é um play de continuidade,” disse Beda. “A empresa tem um público forte, uma rede de lojas físicas relevante e um crediário famoso; o objetivo agora é buscar rentabilidade, sair de produtos que não dão margem e focar nos que geram mais retorno.”

Para não dizer que não mudou nada, a Mapa aumentou o conselho das Casas Bahia de cinco para sete membros e ocupará três cadeiras com Beda, Helmeister e Jackson Schneider, o ex-CEO da Embraer Defesa e Segurança.

A ação da varejista chegou a recuar 5% nos dias após o anúncio da conversão, realizado no dia 6 de junho, mas de lá pra cá sobe 70% para R$ 5, no que o management atribui a um movimento de short squeeze. As Casas Bahia valem R$ 2,5 bilhões na Bolsa.

O segundo maior deal da Mapa foi na Plascar, a produtora de peças automotivas de plástico, que sofria com problemas de balanço e de gestão.

Em 2019, após converter R$ 450 milhões da dívida da Plascar, a Mapa passou a deter 64% das ações e elevou como CEO Paulo Silvestri — o membro do trio com experiência na indústria automotiva. 

“Quando chegamos a Plascar era uma empresa falimentar com uma dívida de R$ 800 milhões, EBITDA negativo e faturamento cadente. Conversamos com as montadoras, os fornecedores e o sindicato, e entendemos que, se arrumássemos o balanço, voltaríamos a conseguir contratos.”

Desde então os volumes da Plascar triplicaram, mas os sócios dizem que a empresa ainda não está pronta para um re-IPO (a Plascar é listada, mas não tem liquidez). 

“Ainda existem desafios grandes. A empresa precisou se financiar durante a reestruturação e eventos macro atrapalharam. O operacional está muito bem, mas o balanço ainda apresenta desafios,” disseram os sócios.

A MRO é outra empresa controlada pela Mapa, que possui 88% do capital. Neste caso, os fundadores do negócio de logística possuem os outros 12% e seguem tocando a operação.

“Nossa atuação depende muito do que compramos. Se a empresa tem problemas sérios de gestão, precisamos trocar a gestão. Se o problema é o balanço, damos oportunidade para o gestor trabalhar com um balanço leve. No caso da MRO, a empresa cresceu 30% no ano passado,” disseram.

A Mapa tem ainda uma participação minoritária, de 3,5%, na empresa de vestuário e acessórios Veste. A conversão foi liderada pela WNT, e a Mapa foi provocada por bancos que ainda não tinham vendido seus títulos para participar do negócio.

A Mapa tem outras transações em estudo, mas nada do tamanho de Casas Bahia no curto prazo.