O BB&T Center é uma arena esportiva na cidade de Sunrise, Flórida. É a casa do time de hóquei no gelo Florida Panthers, e tem capacidade para 19.432 espectadores.

Na semana passada, a arena — lotada para um town hall organizado pela CNN — parou quando um aluno da Escola Stoneman Douglas, sede do 17º ataque armado em escolas desde (apenas) o início do ano, enfrentou o senador republicano Marco Rubio.

10432 4cd18cea 262a 0000 0000 a7b305b6410a“O senhor pode me dizer aqui e agora que nunca mais vai aceitar dinheiro da NRA (National Rifle Association)?”, disparou Cameron Kasky, um estudante que sobreviveu ao massacre, encarando o ex-presidenciável a meio metro de distância.

Rubio foi evasivo. O problema, disse ele, não era o dinheiro de campanha, mas o amplo apoio dos americanos ao direito de portar armas.

Rubio tem certa razão. De 1998 até 2016, a NRA, que se orgulha de ser a mais antiga organização civil americana, gastou apenas US$ 14 milhões em financiamento direto a campanhas federais. O problema mora em outra rubrica. No mesmo período, a NRA investiu US$144,3 milhões em campanhas de opinião pública, demonizando qualquer político que ouse relativizar o escopo da Segunda Emenda, que garante o porte de armas para todos.

Mas desde o massacre da Flórida, que deixou 17 mortos, o chão está se mexendo debaixo da indústria de armas. Sob a liderança de jovens articulados como Kasky, millenials em todo o país passaram a usar as redes sociais e a TV para desconstruir a ideia de que o direito às armas é absoluto. 

Com a campanha #BoycottNRA e o lema “Never Again”, os adolescentes já levaram mais de 10 empresas — incluindo a Delta Air Lines, United, Hertz e a seguradora Chubb — a encerrar parcerias que davam promoções e descontos a associados da NRA. 

Não está sendo um rompimento fácil. Por aderir ao boicote, a Delta foi ameaçada por um político republicano da Geórgia, onde fica sua sede, de perder benefícios fiscais da ordem de US$ 50 milhões. FedEx, Amazon e outros estão sofrendo boicotes porque se recusaram a entrar no boicote.

A força dos estudantes é crescente. Emma González — outra que sobreviveu ao massacre e hoje lidera o movimento — já tem mais de 1 milhão de seguidores, contra 595 mil da NRA.

Os estudantes prometem marchar nas ruas no dia 24 de março, e têm a maioria da população a favor de um maior controle no uso de armas: 70%. Esse índice costuma oscilar bastante, mas é o maior desde 1993. Em outubro, após o massacre em Las Vegas que deixou 58 mortos, o índice era apenas 52%.

A virada na opinião pública chega num momento em que os grandes apoiadores da NRA, os fabricantes de armas, estão enfraquecidos. 

Dois dias antes do massacre de Parkland, a Remington, que fabrica o AR-15 usado pelo assassino, entrou com pedido de recuperação judicial. 

A situação do mais antigo fabricante de armas dos EUA começou a ficar ruim após o massacre de Sandy Hook, há seis anos, quando disparos com a mesma arma semi-automática matou 27 crianças em idade pré-escolar.

Na época, Steve Feinberg, do fundo Cerberus, anunciou que venderia a Remington, mas nunca cumpriu a promessa. Com uma dívida quase bilionária e um IPO frustrado, a empresa tem um passivo incalculável: uma ação judicial que tenta responsabilizá-la pelo massacre. 

Para piorar, as vendas de armas têm caído desde que Trump assumiu a Casa Branca. A queda atinge todas as fabricantes e é um fenômeno quase sazonal para essa indústria: sempre que um ‘amigo das armas’ chega ao poder, a demanda diminui. O medo de restrições ao porte de armas é o que faz crescer as vendas. 

Na semana passada, os estudantes da Flórida foram até a capital do estado pressionar o Legislativo a debater uma lei de controle de armas. Mesmo com milhares de jovens cercando a Assembleia, a proposta foi rejeitada. 
 
Mas nem tudo estava perdido. No mesmo dia, os legisladores aprovaram uma resolução declarando a pornografia ‘um risco à saúde pública’. E no dia seguinte, uma lei obrigando todas as escolas a exibir o lema do estado: “In God We Trust.”
 
Em seu programa na CBS, Stephen Colbert não perdeu a piada. “É isso aí, jovens. Acreditem em Deus… porque os políticos não estão fazendo p*** nenhuma.”