As famílias felizes são todas parecidas, já as infelizes o são cada uma à sua maneira, Tolstoi escreveu em Anna Karenina.
A mesma lógica talvez se aplique aos bear markets.
Um time de analistas da Goldman Sachs estudou mais de cem anos da história das principais bolsas do mundo e concluiu que há três tipos de bear markets: os “cíclicos” – marcados pela alta nos juros e lucros em queda –, os “estruturais” – associados ao estouro de bolhas – e os “event-driven” – desencadeados por choques externos como guerras e crises em mercados emergentes.
Para os analistas, o atual bear market é do tipo cíclico, apesar de ter algumas características dos estruturais (dados os valuations de tech que prevaleceram até recentemente) e dos event-driven (por causa da guerra).
Segundo os autores do estudo, este bear market não é estrutural porque os balanços do setor privado (empresas e famílias) continuam saudáveis, o mercado de trabalho segue apertado, e apesar da magnitude da queda de preço em alguns ativos, não houve choque sistêmico nem desordem nos mercados de crédito.
Nas quedas cíclicas, o gatilho preponderante é a percepção de que o aumento da inflação provocará o aumento dos juros, o que leva os mercados a precificar uma recessão.
Estudar as particularidades de cada bear market pode ajudar nas estimativas de quando o mercado baterá no fundo do poço – e o tamanho do tombo – além de iluminar os fatores que vão determinar o momento da virada.
“Os investidores enxergam os bear markets e as recessões que os acompanham de maneira bastante binária: você está dentro ou não,” dizem os autores. “Na realidade, a escala e profundidade dos bear markets variam bastante.”
Os bear markets do tipo cíclico costumam durar dois anos, entre o pico de alta e o ponto de virada. E qual o tamanho da queda? Na média, 31%. A retomada é gradual. As bolsas voltam ao pico anterior cinco anos mais tarde.
Os mais sofridos são os bear market estruturais, caracterizados pelo estouro de bolhas e a deterioração financeira do setor privado – tanto das empresas como das famílias. Eles duram três anos e meio na média, e a desvalorização das ações alcança 57%.
Com a queda de 22% desde janeiro, o índice S&P 500 amarga o seu pior começo de ano desde 1962. Na Nasdaq, a retração supera 30%.
Como o pico dos mercados acionários ocorreu em janeiro, o atual bear market está entrando em seu sexto mês. Se ele for realmente do tipo cíclico, é alta a probabilidade de que as bolsas darão início à retomada no final do próximo ano.
“O ponto de virada normalmente ocorre quando as expectativas de juros começam a moderar,” escreve o time da Goldman. No momento, essa curva é ascendente.
A recuperação das ações depende do controle da inflação, abrindo a possibilidade de juros mais baixos e retomada do crescimento econômico.
Mas os analistas alertam: atingir o pico inflacionário pode não ser suficiente. Para a virada se concretizar, são necessários outros fatores, entre eles baixos múltiplos de valuation, expectativa de crescimento do PIB e sinais de que os juros vão entrar em trajetória de queda.