Depois da XP decepcionar no quarto tri, o mercado revisou para baixo as projeções para a companhia, esperando que o inferno astral escorregasse também para o primeiro tri.
No final, os números vieram fracos — mas não tão ruins quanto o mercado esperava.
O lucro líquido ficou em R$ 796 milhões, uma alta irrisória de 1,6% em relação ao quarto tri mas 20% acima do consenso.
Já o lucro antes dos impostos (EBT) ficou em R$ 816 milhões, também superando o consenso de R$ 645 mi.
O mercado parece já estar antecipando parte desta melhora. A ação da XP já subiu 45% desde o low em 6 de abril, e fechou hoje a US$ 15,75. O papel sobe 1,9% no after market em Nova York depois do resultado.
Os números do trimestre foram impactados pelo debacle da Americanas. A XP carregava bonds e debêntures da companhia em seu balanço, que seriam distribuídos para os clientes. Com a varejista entrando em RJ, esses títulos sofreram com a marcação a mercado, o que gerou um impacto negativo de R$ 164 milhões na receita, de R$ 160 milhões no EBT e R$ 131 milhões no lucro líquido.
No primeiro tri, a receita da XP veio em R$ 3,3 bilhões, estável em relação ao tri anterior e 2% acima do mesmo tri no ano passado. Excluindo os efeitos da Americanas, a receita teria subido 7%.
Assim como no quarto tri, a XP sofreu principalmente no segmento institucional – que engloba os serviços de mesa de operações e derivativos para gestoras – e no corporate e issuer services, que inclui serviços de hedge para empresas e mercado de capitais.
A receita desses segmentos caiu 7% e 3%, respectivamente, na comparação sequencial. No quarto tri, essas duas verticais já haviam derretido 38% e 37%, respondendo por 80% da queda do top line.
No varejo, que respondeu por 76% da receita total da XP, o desempenho foi um pouco melhor. A receita cresceu 1% no sequencial e 11% na comparação anual.
Na renda variável, a receita cresceu 7% tri contra tri, ajudada pelos produtos estruturados, já que o volume de trading caiu. Na renda fixa, a alta foi de 9% (excluindo o impacto da Americanas), e na plataforma de fundos a alta foi de apenas 1%, por uma questão sazonal. (No quarto tri, o segmento se beneficia das taxas de performance.)
Nas novas verticais da XP — cartões, crédito, seguros e previdência — a receita subiu 64% na comparação anual mas caiu 11% tri contra tri. Essa queda sequencial teve a ver basicamente com um reconhecimento contábil de R$ 54 milhões que a XP havia feito no quarto tri para adequar sua contabilidade aos padrões da indústria de cartões, o que acabou turbinando a base de comparação.
O destaque positivo do primeiro tri foi a queda das despesas — em grande parte pela redução do headcount, que caiu de 6.928 funcionários ao final do quarto tri para 6.134 agora.
O SG&A da XP caiu 24%, de R$ 1,37 bilhão no quarto tri para R$ 1,04 bilhão no primeiro. (Esses números excluem os incentivos que a XP recebe do Tesouro Direto e da B3, que entram no P&L reduzindo as despesas e que somaram R$ 242 mi no quarto tri).
O lucro da XP veio acima do que o mercado esperava, mas ainda está abaixo do guidance que a própria empresa havia passado. Na divulgação do quarto tri, a XP disse que esperava entregar um lucro líquido de R$ 3,8 bi a R$ 4 bi neste ano — o que daria um lucro por trimestre de cerca de R$ 1 bilhão.
Na prática, isso significa que a companhia está esperando uma recuperação mais forte nos próximos trimestres.
No mês passado, a XP já havia reportado também alguns de seus KPIs operacionais. Um dos principais destaques negativos foi a piora do chamado net new money, que mede em quanto a XP conseguiu aumentar seu AUC entre captações e saques de clientes.
No primeiro trimestre, a companhia teve uma captação líquida de R$ 16,2 bilhões no trimestre, o equivalente a R$ 5,4 bilhões por mês — metade do soft guidance de R$ 10 bi a R$ 14 bi que a companhia havia passado ao mercado.
Os números são um efeito natural do cenário macroeconômico. Com a Selic a 13,75%, as pessoas estão preferindo deixar o dinheiro em títulos de liquidez diária dos bancões (atrelados ao CDI) do que investir em produtos com uma visão de mais médio/longo prazo.
Apesar disso, o mais relevante para a redução da captação líquida da companhia tem sido a saída de recursos, principalmente no atacado — que reúne os clientes private e as empresas. As empresas estão sacando recursos de investimento porque precisam de caixa ou porque precisam concentrar os recursos com os bancões como contrapartida para conseguir crédito.
Segundo uma fonte próxima à XP, a dinâmica do net new money do segundo tri continua parecida com a dos três primeiros meses do ano.