O Santander Brasil reportou um resultado abaixo do esperado pelo mercado — com o lucro e o ROE caindo tri contra tri e dinâmicas piores de crescimento de carteira e qualidade dos ativos. 

A ação abriu em queda de 3%, mas recuperou ao longo do pregão. Por volta das 12h, o papel estava estável. É possível que o mercado já tenha antecipado boa parte do resultado: nos últimos 30 dias a ação caiu 11%, com o Santander performando pior que seus concorrentes (Bradesco caiu 7% e Itaú, 6%). 

No segundo tri, o Santander fez um ROE de 16% e lucro líquido ajustado de R$ 3,66 bilhões, uma queda de 5% na comparação sequencial e alta de 10% ano contra ano. 

Mario Leao ok 1O lucro veio cerca de 3% abaixo do consenso, mas um analista notou que os impostos neste tri foram baixos, de cerca de 10%. Olhando o lucro antes dos impostos, o EBT, o ‘miss’ foi ainda maior, de cerca de 7%. 

“Eles mostraram uma dinâmica fraca na carteira de crédito, que já era esperada, e uma dinâmica de asset quality mais fraca na margem. E o preocupante é que isso já apareceu no segundo trimestre, sendo que a expectativa para o segundo semestre é que a economia desacelere ainda mais,” disse um analista que cobre a empresa.

A carteira de crédito caiu 1% no tri contra tri, o que foi explicado principalmente pelo efeito do câmbio, com o real se desvalorizando. Excluindo o efeito cambial, a carteira teria ficado estável. 

Na call com analistas, o CFO Gustavo Alejo Viviani disse que a queda da carteira teve a ver principalmente com o segmento de grandes empresas, que caiu 5,8% no sequencial e 13% ano contra ano pela variação cambial e pela redução da demanda do risco sacado por conta das discussões sobre o IOF. 

“Em cartões tivemos uma evolução positiva, assim como na financeira e em PMEs. A carteira de varejo PF permaneceu estável, mas tivemos uma melhora na composição do mix, com produtos mais rentáveis,” disse o executivo. “Crescemos 81% no crédito pessoal com garantia de FGTS e investimentos, e reduzimos nossa exposição no consignado público e INSS e no crédito pessoal sem garantia.”

A redução no consignado INSS, que tem acontecido há alguns trimestres, tem a ver com o cap de juros, que tem tornado a operação pouco rentável principalmente quando originada em canais que não são próprios. 

No canal próprio do Santander, a originação também tem reduzido porque depois da fraude do INSS o Governo passou a exigir validação por biometria dos consumidores, o que tornou a jornada de concessão mais complexa. 

“Gostamos do produto, mas temos um foco na rentabilidade, e não conseguimos ver como fazer ele de forma rentável com esse teto de juro. Ele não atinge os patamares que queremos.”

Já a inadimplência melhorou no trimestre, com o NPL de 15 a 90 dias caindo de 4,1% no primeiro tri para 4% agora, e o NPL 90 dias indo de 3,3% para 3,1%. 

A expectativa do mercado, no entanto, era de que a melhora fosse maior. 

“No primeiro tri eles tinham mostrado uma dinâmica pior na inadimplência e a mensagem que tinham passado no call era que ela voltaria no segundo tri. A sensação que ficou é que ela voltou, mas menos do que se esperava. E teve alguns indicativos de piora na inadimplência curta de agro e em PMEs,” disse um analista.

Outros destaques negativos do trimestre foram o aumento das provisões e o resultado da tesouraria, que foi negativo em R$ 700 milhões, em comparação a um resultado positivo de R$ 90 milhões no primeiro tri. A tesouraria performou mal por conta da alta da Selic, já que historicamente Santander e Bradesco operam ‘apostando’ na queda do juros. 

As provisões subiram 10% tri contra tri e 21% na comparação anual, atingindo R$ 6,9 bilhões no trimestre. O número também veio pior do que as projeções do sellside.

O CFO disse que o aumento das provisões é explicado por dois dois efeitos. Na carteira de grandes empresas, o banco provisionou mais por conta de novas entradas de companhias em recuperação judicial e por ajustes nas provisões por uma expectativa menor de recuperação de créditos. O banco também fez o writeoff de alguns ativos com baixa probabilidade de recuperação, o que demandou mais provisões. 

A combinação das provisões maiores com o resultado da tesouraria explica em grande parte o ‘miss’ nos lucros. 

Do lado positivo, o Santander mostrou uma melhora na eficiência, com as despesas com pessoal e administrativas caindo no tri contra tri e subindo abaixo da inflação na comparação anual.

As despesas com pessoal caíram 4,9% no sequencial e subiram 1,8% ano contra ano; as despesas administrativas caíram 0,4% no sequencial e subiram 1,2% na comparação anual. 

Isso fez com que o índice de eficiência da companhia melhorasse para 36,8%, em comparação aos 37,2% do primeiro tri deste ano e os 39% do segundo tri do ano passado. Esse é o melhor indicador do Santander dos últimos três anos. 

“Vamos buscar de forma mais contundente bater a inflação nas despesas. Já temos feito isso ao longo dos anos, mas não com uma diferença tão material. Nesse tri, começamos a entregar isso de forma mais material, com uma diferença de quase 400 pontos em relação a inflação,” disse o CEO Mario Leão. 

“E não vamos parar aqui. Vamos continuar com essa agenda nos próximos trimestres. Essa não é uma agenda que vamos conseguir completar em 2025. Vamos continuar também ao longo de 2026 e parte de 2027.”

Ele diz que a agenda pode demorar mais, porque algumas das medidas de ganhos de eficiência — como automações e redundâncias — dependem da conclusão de investimentos feitos no passado recente. “Em cartões, por exemplo, ainda estamos rodando dois sistemas hoje.”

Na call com os analistas, o CEO também reiterou o objetivo de chegar a um ROE de 20%. Questionado sobre as alavancas para chegar nesse patamar, Leão admitiu que a queda da Selic é um fator importante, mas disse que o banco está trabalhando para não depender disso.

“Temos outras alavancas e a eficiência é uma delas. Ela sozinha já consegue entregar bastante dessa diferença entre nosso ROE de 16% e os 20% que queremos. Mas ela não pode ser a única. Do lado das receitas também podemos evoluir bastante. Não precisamos crescer tanto a carteira, mas podemos trabalhar nas margens do crédito e no negócio de comissões, que tem evoluído muito.”