Há dois anos em operação, a Jubarte Capital passa a ter mais um sócio: Luiz Fernando Figueiredo, chairman da Jive Mauá e ex-diretor do Banco Central.
Fundada por Eduardo Camara Lopes, ex-CIO da Itaú Asset e da Ashmore no Brasil, e Denis Jungerman, que foi country head no Brasil do canadense CDPQ, a Jubarte atua em duas frentes principais: fundos multimercado e de ativos reais.
O papel de Figueiredo será contribuir com a visão macro e ajudar a estruturar e expandir a operação. Ele também passa a integrar o advisory board da casa, que conta com os historiadores Niall Ferguson e Pierpaolo Barbieri, Manoel Lemos, sócio-diretor da Redpoint, e Marcus Menoita, fundador da Raiar Orgânicos.
A estratégia do multimercado é analisar os ciclos econômicos, identificar como diferentes ativos se comportam ao longo dos ciclos e montar posições em cima disso.
“É uma visão de portfólio, e não de books separados,” Eduardo disse ao Brazil Journal.
O portfólio do fundo, hoje, é defensivo. Uma das maiores posições é o ouro, e o fundo também investe em ações americanas – um ativo que mantém de maneira estrutural. No Brasil, a Jubarte está zerada em renda variável desde junho de 2024.
Ter ações brasileiras só vale a pena num momento específico do ciclo, quando os juros estão caindo, disse Eduardo. “Nessa fase a Bolsa é um ativo muito bom, mas você perde dinheiro nos outros 3/4 do ciclo, quando investir em Bolsa no Brasil não compensa e o melhor é gerar alfa taticamente short.”
Figueiredo, que foi diretor de política monetária do Banco Central entre 1999 e 2003, acredita que o País já vive um início de dominância fiscal, em que a política fiscal tem tanto peso sobre a monetária que é necessário subir muito os juros para controlar a inflação.
“Um juro de 15% ao ano mostra que estamos doentes. E a doença é o fiscal, que arrasta todo o resto,” disse Figueiredo.
A proliferação do crédito incentivado também exige juros maiores, já que uma parcela do crédito sente menos os efeitos de uma alta da Selic, acrescenta.
“O Brasil deve ter a menor sensibilidade a juros do mundo,” diz o novo sócio da Jubarte.
Analisando os modelos que o BC usa para definir a Selic, Figueiredo acredita que só há espaço para começar a reduzir a Selic no segundo tri de 2026.
Mas, claro, se surgirem novos dados positivos sobre inflação e desaceleração da atividade, o BC poderia se movimentar antes, como passaram a prever alguns economistas.
Para ele, outra grande dúvida em relação ao Brasil são os desdobramentos das sanções de Trump: não está claro se há espaço para negociação ou se a disputa ainda pode crescer, o que geraria impactos políticos e econômicos.
Do lado positivo, ele vê a opcionalidade do ciclo eleitoral, de um candidato com uma visão política e econômica “razoável” passar a ter chance de ocupar a presidência – o que poderia dar um novo rumo para a situação fiscal e as negociações com os EUA.
“Só existe uma coisa mais poderosa que um fato consumado: um fato novo.”