Hoje com 24 anos, a candidata a vereador de São Paulo pelo Novo, Naira Sathiyo, sentiu na pele como a educação faz a vida de uma pessoa mudar.
Filha de um ex-metalúrgico e uma ex-professora de educação física, aos 14 anos ela conseguiu uma bolsa de estudos da Ismart, a ONG de Marcel Telles, e foi estudar pela primeira vez numa escola particular.
“Foram os três anos mais difíceis da minha vida, porque a escola pública não tinha me dado a base para eu tirar a média que precisava como bolsista,” diz ela.
O esforço deu resultado: com 17 anos, passou em direito na PUC-SP com uma bolsa do ProUni. Ainda na faculdade, estagiou no Ministério Público, no Tribunal de Justiça e na Defensoria Pública, até ir parar no gabinete do deputado estadual Daniel José, do Novo.
Foi lá — onde era responsável por analisar o cenário da educação básica e superior no Estado de São Paulo — que se apaixonou pelo serviço público e decidiu que queria entrar na política.
Naira tem uma trajetória e uma bandeira política muito parecidas com as da hoje deputada Tábata Amaral, que como candidata encantou a Faria Lima — ainda que seu histórico de votos não tenha agradado a todos.
A candidata conversou com o Brazil Journal sobre suas propostas.
Por que você decidiu entrar na política? Qual foi sua motivação?
Quando trabalhei no gabinete do Daniel José, eu entendi de perto como funciona a engrenagem da política, e quão impactantes as decisões dos políticos são na vida das pessoas que mais precisam. Vi que tem muita gente ruim lá, mas também muita gente boa querendo melhorar as coisas. E vi que precisamos de verdade de renovação: não só de gente bem intencionada, mas de pessoas preparadas e que tratem políticas públicas com base em evidência, e não em achismos e pautas corporativistas que agradam grupos de interesse e não resolvem a raiz do problema.
Também acredito muito no poder da educação como o maior equalizador social que existe. O jovem brasileiro tem muito potencial, mas faltam oportunidades. E é na política que vamos conseguir fazer essa transformação.
Qual seu diagnóstico da educação pública no Brasil?
Como ex-aluna de escola pública minha visão é que as escolas não são atrativas para o aluno. Elas não fazem mais sentido para os alunos do século 21. Eu acho que falta uma grade curricular mais atualizada, falta usar tecnologia de forma intensa, e falta um currículo que prepare os alunos para pensar no seu futuro… não estou falando que o aluno deva saber com 17 anos o que quer fazer da vida, mas é na escola onde vamos construir possibilidades e entender o que gostamos de fazer.
Mas como mudar isso?
Muita gente acredita que o grande problema do Brasil na educação é a falta de dinheiro, mas na verdade é a má gestão dos recursos. Eu costumo dizer que quanto mais dinheiro melhor, mas não adianta ter rios de dinheiro se você não sabe administrar aquilo. Temos que racionalizar esses recursos. Onde de fato precisa? É na formação de professores? No combate a evasão? Na infraestrutura? Isso vai depender da realidade de cada lugar do Brasil. Mas temos que nos basear não só nessa gestão inteligente, mas também em bons exemplos de outros lugares que deram certo.
E pra isso não precisamos ir para a Finlândia ou para a Estônia pra ver como fizeram lá. Podemos olhar o Ceará e Pernambuco, que viraram a chave do repasse do ICMS para a educação, fizeram uma reestruturação na formação dos professores e na avaliação dos alunos…
Isso é importante falar porque o Brasil é ótimo em criar política pública… mas péssimo em pensar política pública. Testamos muito pouco, avaliamos muito pouco para conseguir fazer a reestruturação que realmente precisamos para atingir as metas. A educação do Brasil é um desafio porque temos muitos alunos. E quando falamos de São Paulo, é muita criança mesmo. Mas dá para fazer muita coisa legal se tivermos uma gestão eficiente e se começarmos a pensar no rendimento dos alunos e dos professores.
Como melhorar a formação dos professores com poucos recursos?
Esse é um ponto muito importante. A carreira do professor não é atrativa hoje. Se você perguntar numa sala de aula quantos alunos querem ser professores a resposta não vai ser muito feliz, porque realmente não é uma profissão atrativa.
Falta uma modernização nessa carreira, tornar os professores mais bem preparados, com uma graduação voltada para a prática e não uma graduação tão teórica como acontece hoje no Brasil. Os cursos de graduação são extremamente teóricos, e quando os professores se formam eles vão para uma sala de aula com 40 alunos e naturalmente é muito difícil lidar com isso.
Durante a faculdade tem que ter uma grade mais voltada para a parte prática, e depois que eles se formam tem que ter uma evolução de carreira com base no atingimento de metas. Essa é uma pauta muito polêmica, porque é querer cobrar mais dos professores, mas é importante vermos onde de fato está precisando mudar.
Você deu o exemplo do Ceará e Pernambuco como dois cases de sucesso. O que dá pra tirar de lição desses dois exemplos?
O ensino médio de Pernambuco é um exemplo para o resto do País. Eles fizeram uma estruturação com base em quatro eixos. O primeiro foi infraestrutura, no sentido de reformar as escolas para torná-las um ambiente mais atrativo, o que incentiva os alunos a permanecer mais tempo na escola. O segundo foi gestão por resultado: tanto professores quanto diretores recebem premiações na medida em que cumprem as metas estabelecidas. O terceiro foi o uso de tecnologia dentro da sala de aula. Os alunos querem ter uso de tecnologia no período em que estão na escola. Não só usar o ensino híbrido, EAD e presencial, mas também dar um apoio para depois que eles se formarem, ajudar a buscar Bolsas de estudos, por exemplo.
E tanto Pernambuco quanto o Ceará mudaram a lógica do repasse do ICMS para as prefeituras conforme o rendimento das escolas e dos alunos na educação. Se tem uma escola onde os alunos estão com o desempenho bom, ela recebe uma parte maior do repasse do ICMS. Esse é inclusive, um projeto que o Daniel José está construindo na Alesp… há algumas semanas já foi aprovado o trâmite de urgência no plenário, então São Paulo logo menos vai ter essa política também.
Como você vê a política hoje? Tivemos algumas renovações na última eleição, o próprio Daniel é um exemplo disso, mas ainda parece que não mudou tanto assim.
Eu acho que renovação não é sinônimo de qualidade. Vimos que muita gente nova entrou, mas não necessariamente fazendo política boa. Acho que os políticos que de fato queiram vestir a camisa da renovação e fazer boa política tem que ter um projeto de cidade, um projeto de País, não um projeto de poder, de ascensão social. Esse acho que é o primeiro passo. Depois se preparar tecnicamente para enfrentar o que um parlamentar precisa. Não podemos ficar só nos discursos bonitos, nos achismos, e não entender como funciona a gestão, como funciona a máquina pública. Precisa ter uma preparação mais técnica.