Apesar da melhora do mercado nos últimos dias, os private banks ainda não estão prontos para dizer aos clientes que é hora de mergulhar na piscina.
Quando Luis Stuhlberger disse ontem que “a Bolsa brasileira é o melhor lugar para se estar exatamente porque está todo mundo vendendo,” essa não foi exatamente uma posição contrarian.
É consenso no mercado que a Bolsa está barata – com as empresas sofrendo com a aversão a risco global, o aumento dos juros e a incerteza eleitoral.
Mas ainda que faça sentido para o investidor avaliar aumentar sua exposição a risco, falta ainda um gatilho para que os private bankers sugiram a seus clientes ser mais agressivos na Bolsa neste momento.
“O mercado está tomando um pouco mais de risco,” afirmou Fernando Fenolio, sócio e economista-chefe da WHG. “Mas uma coisa é um fundo de investimento com gestão ativa, que pode surfar nesses movimentos e trocar de posições rapidamente. Outra coisa é uma carteira de asset allocation de cliente, que é para carregar por mais tempo. Aí ainda não mudamos nossa cabeça. Mantemos a opção pela cautela.”
O fechamento das taxas de juros futuros no Brasil, sobretudo depois de o BC sinalizar o fim do ciclo de alta na Selic, dá algum fôlego para as ações. Mas, segundo Fenolio, há riscos importantes que não devem ser ignorados.
O grande risco externo é os juros americanos subirem mais que o precificado e demorarem mais a cair do que o antecipado pelos investidores. “O Fed pode voltar a falar mais grosso,” disse.
No Brasil, pesa a indefinição eleitoral. “Por isso, decidimos não aumentar a nossa exposição a risco nas carteiras dos clientes,” disse o economista.
Pelos múltiplos, as ações brasileiras estão trocando de mãos a preços ridiculamente baixos.
A média histórica da relação preço/lucro (para os próximos 12 meses) da Bovespa é 12,6. Hoje, esse múltiplo está em 8,8, o mais baixo desde a crise de 2009. E tirando da conta Petrobras e Vale, o múltiplo é ainda mais sexy: 7,2x, contra uma média histórica de 11,2x.
Agora que começa a se consolidar um cenário de trajetória de queda na inflação, as ações brasileiras que mais apanharam na Bolsa no último ano voltaram a ter altas expressivas nos últimos pregões.
O Ibovespa bateu o low do ano em 14 de julho. De lá para cá, subiu 10%.
No mercado americano, depois de um dos piores primeiros semestres de toda a história o S&P 500 subiu 10% no último mês, e a Nasdaq, 15% – o início de uma alta sustentada ou só um dead-cat bounce?
Eduardo Scarceli, fundador da Aram Capital, diz ver sinais positivos para o aumento do apetite a risco, mas está mantendo a cautela no portfólio sugerido, cujo objetivo é a preservação de patrimônio.
Scarceli nota que entre 2017 e 2021, um período em que os juros reais chegaram a ficar em 2,5% no Brasil, sua carteira sugerida manteve só 25% da alocação na renda fixa e os outros 75% em posições diversificadas entre fundos multimercados, venture capital, fundos imobiliários e ações.
Mas com a alta dos juros, as posições praticamente se inverteram. Hoje 70% da carteira está em renda fixa, com destaque para crédito privado isento de IR e papéis indexados à inflação.
“Foi um shift muito grande, que os grandes bancos e corretoras não conseguem fazer,” disse Scarceli.
O gestor acredita que ainda não chegou a hora de aumentar o peso da Bolsa brasileira na carteira, porque “estatisticamente, a volatilidade cresce nos 100 dias que antecedem as eleições. Temos caixa e vamos comprar ações aos poucos, conforme aparecerem oportunidades.”
Eduardo Castro, o CIO da Portofino, disse que seus clientes estão aumentando a exposição a risco – mas em renda fixa, não em equities. “Aproveitamos a abertura dos spreads e estamos overweight em juros pré,” afirmou. “É arriscado, porque os spreads podem fechar rapidamente. Mas achamos que vale a pena neste momento.”
Para ele, “do ponto de vista de valuation, é consensual que a Bolsa está barata, mas na nossa avaliação temos uma recessão contratada. A dúvida é quanto disso já está no preço, tanto a intensidade quanto a duração. A Bolsa vai acontecer, mas falta um gatilho. Ainda vai chegar a hora.”