Ferdinand Porsche abriu sua oficina de projeto de carros em 1931. Desenhou o primeiro Fusca e, anos depois, criou uma das mais admiradas marcas de carros esportivos de luxo do mundo. 

Nove décadas depois, a Porsche começou a negociar na Bolsa de Frankfurt, num IPO que levantou US$ 9,1 bilhões – um dos maiores já feitos na Europa. 

O papel saiu a 82,50 – o topo da faixa indicativa – e começou o dia acelerando, com alta de 4%. Mas ao final do pregão, recuou para o valor da oferta inicial.

O negócio foi considerado um sucesso – particularmente tendo em vista os mercados em queda e os temores de uma recessão global. 

A demanda dos investidores é compreensível. A Porsche tem margens de lucro de dois dígitos, e o mercado de luxo costuma ser resiliente em ambientes macros ruins.

A Porsche foi avaliada no IPO em US$ 73 bilhões. Para efeito de comparação, antes da transação o valor de mercado da Volkswagen, sua controladora, era de US$ 84 bilhões, incluindo as dez marcas do grupo, entre elas a Audi, a Lamborghini e a própria Porsche. 

O IPO era estudado havia algum tempo e visto como estratégico para liberar o potencial financeiro da marca, cujo valor acabava se diluindo no meio do conglomerado alemão. 

Foi uma operação semelhante à feita pela Daimler, que em dezembro passado fez o spinoff da Mercedes-Benz, seu negócio de carros de luxo. A Mercedes hoje vale US$ 56 bilhões. 

A empresa automobilística mais valiosa do mundo continua sendo a Tesla, com um market cap eletrizante de US$ 886 bilhões, apesar da queda dos últimos meses.  

A Volkswagen colocou à venda no mercado 12,5% do capital da Porsche, em ações sem direito a voto. Entre os investidores que ficaram com a maior parte dos papéis estão os fundos de Abu Dhabi, Catar e Noruega, além da gestora T. Rowe Price. 

Uma parcela semelhante do capital, mas com papéis com direito a voto, ficará com o fundo dos herdeiros de Ferdinand Porsche. Eles estão também entre os principais controladores da Volks. 

A Porsche é uma máquina de fazer dinheiro. No ano passado, vendeu 302 mil carros, faturou 30,3 bilhões e teve lucro operacional de 5 bilhões.

Nesse mesmo período, as dez marcas da VW juntas venderam 8,9 milhões de carros, com faturamento total de 250 bilhões e lucro depois de impostos de 19,2 bilhões.

A Volkswagen vai usar parte dos recursos da oferta para investir na modernização de suas fábricas e desenvolver novos veículos, principalmente elétricos.