Se você é CEO de uma empresa e a implementação de cloud ainda não é uma das suas três prioridades, este artigo pode te ajudar a refletir sobre isso. A computação por nuvem, ou cloud, pode aumentar significativamente a agilidade organizacional, a produtividade e a resiliência dos processos internos de uma empresa, além de abrir horizontes de negócio totalmente inéditos. Ela é o catalisador do que chamamos de quarta revolução industrial — a nova realidade moldada por tecnologias como o uso aplicado de inteligência artificial e robótica, machine learning, internet das coisas (IoT) e outras que, até pouco tempo atrás, pareciam cenas de filmes de ficção científica, mas que já são e serão o novo normal nos próximos dez anos da nossa sociedade.      

Todas essas novas tecnologias exigem uma capacidade de processamento de dados muito maior. Assim, em vez de fazer um investimento pesado em servidores, sistema de refrigeração, cabeamento e afins, as empresas podem pagar por tudo isso como um serviço a ser consumido de acordo com a necessidade. As equipes de TI e de negócio poderão então concentrar esforços onde a nuvem permite agregar valor. É por isso que a computação por nuvem pode aproveitar todo o potencial de analytics, automação e inovação nos mais variados contextos de negócio e leva o processo de criação de novos produtos e serviços a novas esferas. Alguns exemplos bem práticos do que o cloud já possibilita ou fará em um futuro próximo:

No setor industrial, automatizar processos de produção, otimizar a compra de insumos; prever necessidade de manutenção de equipamento industrial e evitar interrupções inesperadas; agilizar o cálculo da pegada de carbono e orientar trade-offs; realizar autoescalonamento e gestão de desempenho automatizada; fazer a previsão automatizada para petróleo e gás.Na agricultura, avaliar temperatura e umidade do solo de forma remota por meio de sensores e IoT e, assim, controlar com exatidão o uso de água, energia e insumos; monitorar a saúde de rebanhos; controlar maquinário autônomo de forma remota; mapear a saúde da lavoura por imagem de drones.

Na indústria de bens de consumo, analisar o volume gigantesco de interações do consumidor com as marcas nas redes sociais, identificando tendências e desejos de novos produtos com agilidade; otimizar o portfólio e eliminar a complexidade; automatizar o controle de estoque No setor bancário, aprovar crédito em questão de segundos, aos invés de dias; otimizar o call center, criar suporte via chatbot.

Com tamanhas novas possibilidades, o potencial de negócio e geração de valor liberado pela nuvem é gigantesco: uma pesquisa do McKinsey Global Institute avaliou mais de 700 casos de aplicação de computação por nuvem, distribuídos por 19 indústrias, e concluiu que, ao utilizar o potencial total da nuvem, empresas integrantes da Fortune 500 podem alcançar até cerca de US$1 trilhão de EBITDA adicional em 2030. Todos os setores podem capturar um valor substancial com a nuvem, mas os de tecnologia, petróleo e gás, varejo, saúde, seguros e bancário são os com maiores chances de crescimento. Quase todas as indústrias presentes na Fortune 500 mostram potencial para um aumento médio de mais de 20% no EBITDA. 

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Onde está o valor?

A captura de valor avaliada em US$1 trilhão tem sua origem a partir de três dimensões: 

1. Rejuvenescimento: descreve a interrupção do uso de abordagens tradicionais e a adoção da nuvem para reduzir custos e riscos de TI (paralisações, atualizações de sistema) e das principais operações. Essa dimensão inicial é o que permitirá diminuir o esforço manual por meio de modelos baseados em API (Interface de Programação de Aplicação, que simplifica o desenvolvimento de aplicativos), automação e padronização (por exemplo via IaC, ou Infraestrutura como Código, onde códigos padronizados substituem processos manuais de configuração de infraestrutura);

2. Inovação: envolve a utilização da nuvem para acelerar ou viabilizar a inovação por meio de tecnologias como advanced analytics, IoT e automação em escala. Nesta esfera, empresas podem experimentar com aplicativos e novos modelos de negócio a um custo menor e com maior velocidade, evitando o desembolso inicial de um grande volume de capital ao lançar ou expandir negócios. Com a adoção da nuvem, é possível acelerar drasticamente o design, o desenvolvimento e o ramp-up de um produto, ajudando as empresas a reduzir substancialmente o time-to-market. A infraestrutura e a presença global dos provedores de serviços em nuvem pode funcionar como uma alavanca para escalonar produtos de forma quase instantânea em um amplo conjunto de segmentos de clientes, geografias e canais. Além disso, a capacidade de computação e de armazenamento dos provedores também permite elasticidade instantânea.

3. Pioneirismo: considera o fato de que os primeiros a adotarem a nuvem poderão capturar uma parcela desproporcional do valor total, e isso ainda não foi dimensionado. Após ter alcançado um certo nível de maturidade na nuvem, as empresas terão a capacidade de ampliar o valor da tecnologia por meio de pesquisas com equipes especializadas, podendo testar inovações como blockchain, realidade virtual e aumentada e impressão 3D para descobrir novas oportunidades de negócio. Para adotar tecnologias emergentes, as empresas podem estabelecer grupos de ponta para desenvolvimento de conceitos, com a vantagem adicional de atrair e reter talentos. Nesta área, a computação quântica pode trazer melhorias de desempenho significativas, com potencial de provocar uma disrupção nos modelos de negócio existentes. 

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Como adotar cloud em escala?

A transição para a nuvem pode ser de alta complexidade de acordo com o contexto, exigindo uma abordagem coordenada pelas equipes de negócio e TI para capturar seu pleno valor. O papel do CEO é crucial para orquestrar os esforços e garantir o apoio necessário a todos os CxOs e partes envolvidas — sobretudo na hora de desenvolver um novo modelo operacional de tecnologia de negócios, estabelecer um modelo de financiamento sustentável para os investimentos na nuvem e criar políticas para atrair e reter talentos. A seguir estão algumas questões que o CEO e o Conselho podem levar ao time executivo para refletir sobre o plano de adoção de cloud:

Qual valor cloud pode gerar para o negócio? E quais são suas aplicações prioritárias?

Qual a estratégia de arquitetura de cloud ideal para a empresa? Quais os principais impactos para o negócio que podem surgir a partir dessa decisão?

Como garantir segurança e compliance dos dados em um modelo de nuvem – em especial para nuvens públicas? A estratégia e as soluções que estamos adotando vão garantir a segurança e a proteção dos dados à medida que capturamos o potencial de cloud?

Como prevenir limitações de dependência tecnológica no futuro? Quais pontos sensíveis devem ser levados em consideração no momento da tomada de decisão inicial no processo de adoção de cloud?

Quais são os modelos de migração? Qual é o mais adequado para nossa empresa? Quais os riscos envolvidos? Temos expertise dentro da empresa para realizar essa migração? Se não, podemos treinar os profissionais internos ou temos que buscar profissionais externos?

Quais as implicações em termos de pessoas, capacidades e cultura para gerir uma organização com uma arquitetura em cloud?

Como podemos medir nosso progresso e captura de valor ?

Após os esclarecimentos iniciais, é hora de desenvolver um novo modelo operacional de tecnologia empresarial que explore o poder da nuvem para aprimorar a velocidade, a agilidade e a escalabilidade, focando em três pilares principais:

Lastro na geração de valor para o negócio

O processo de adoção de cloud deve seguir, desde o princípio, o valor do negócio. É necessário concentrar-se na criação de um diferencial, alavancando os benefícios de cloud para além da redução de custos ou da melhoria na eficiência. É importante ter como norte um caso de negócio sólido: este caso deve estar fundamentado em um claro entendimento do funcionamento econômico da nuvem em termos de economias de custo (rejuvenescimento) e aceleração do negócio (inovação). Ele deve ser ajustado de acordo com os riscos da transformação e priorizado por área de negócio, incluindo as alocações de recursos e o sequenciamento de tarefas necessárias. Uma abordagem eficaz para desenvolver casos de negócio de inovação é analisar e articular o valor que pode ser destravado ou acelerado por cloud.

Abordagem ampla e ágil 

É preciso adotar formas de trabalho ágeis nativas da nuvem. O escopo da mudança necessária exige das empresas uma expertise real: líderes, funcionários e parceiros com ampla experiência em nuvem e em transformações de nuvem, profissionais especialistas e um amplo ecossistema. Além disso, esforços de nuvem bem-sucedidos só são possíveis se as organizações transformarem suas operações. Isso inclui, por exemplo, uma abordagem DevSecFinOps com pequenas equipes multifuncionais trabalhando em uma arquitetura bem definida para entregar casos de negócio (em vez de aplicativos) em ciclos iterativos rápidos, políticas que incorporam segurança no desenvolvimento e automação de processos de ponta a ponta.

Longevidade

Por fim, é importante compreender o espaço de cloud nos planos futuros da empresa. A adoção de cloud pode ajudar as empresas a se movimentarem de forma mais ágil e reduzirem os custos de TI, mas também pode ser uma base para a inovação e a integração de tecnologias emergentes com imenso poder e capacidade de disrupção. Ao desenvolver uma visão clara do valor em jogo e das frentes de negócio a serem priorizadas, muitas empresas poderão capturar sua parcela do prêmio de um trilhão de dólares.

O que fica claro é que estamos diante de uma revolução ímpar que vai balizar o sucesso e o fracasso da grande maioria dos negócios que existem atualmente. Cabe aos líderes atuais mobilizarem esforços, focarem a agenda das companhias e compreenderem onde está a alavanca de valor da nuvem para seus negócios. Ao incentivarem suas equipes a atuarem em times multifuncionais e ágeis, eles devem puxar a agenda da adoção de cloud com a celeridade e a minúcia que o tema exige.

Temos um futuro (literalmente) nebuloso pela frente. E isso é uma boa notícia para os líderes que começarem a agir desde já.

Yran Dias é sócio sênior da McKinsey e líder de “leap”, o grupo especializado na criação de novos negócios e ecossistemas digitais, na América Latina.

Alessandro Rosa é sócio sênior da McKinsey e líder da Prática de Tecnologia na América Latina.

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