A família Constantino, controladora da Gol, e os principais acionistas da Avianca Colômbia fecharam um acordo para colocar dentro de uma nova holding as participações acionárias que têm em suas respectivas companhias aéreas.
A nova empresa – batizada de Abra Group – passará a controlar a Gol e a Avianca, que continuarão sendo geridas separadas e de forma independente.
A Abra será o maior grupo de aviação da América Latina, com cerca de US$ 7 bilhões de receitas e 300 aeronaves, segundo o BTG Pactual. Além de controlar Gol e Avianca, a Abra também terá uma participação minoritária na Viva (Colômbia e Peru) e um investimento em dívida equivalente a uma participação minoritária na Sky Airline do Chile.
Ao criar a holding, as empresas estão buscando ganhos de sinergia na receita e no custo, e podem combinar rotas, ampliar conexões e com o tempo lançar novos voos.
“Não se trata de uma fusão, embora esse possa ser um sinal de que um dia isso irá acontecer”, disse um gestor. “Por enquanto, os maiores ganhos dessa operação serão capturados pela holding dos controladores; para o minoritário da Gol, não mudará muita coisa.”
A ação da Gol fechou em queda de 1,67%, enquanto o Ibovespa subiu 1,25%.
A Abra vai receber a participação que o MOBI FIA – um veículo dos Constantino – tem na Gol, bem como a posição em Avianca que pertence a acionistas reunidos no chamado Investment Vehicle 1 – incluindo os fundos Elliott, South Lake, e a Kingsland, que pertence a Roberto Kriete, atual CEO da Avianca.
Elliott International, Kingsland e South Lake se tornaram acionistas da empresa colombiana depois que ela reestruturou sua dívida. Por conta da pandemia, a Avianca Colômbia entrou em Chapter 11 em maio de 2020 e saiu do processo em dezembro de 2021, após entrar em acordo com credores e levantar US$ 1,7 bilhão. A empresa nada tem a ver com a Avianca no Brasil, que era operada por outro grupo e entrou em falência.
Elliott, Kingsland e South Lake se comprometeram a participar de uma capitalização na Abra de US$ 350 milhões após as aprovações regulatórias do negócio, esperadas para o segundo semestre.
Somente após essa capitalização é que a participação de cada um dos acionistas na Abra será definida. Fontes próximas ao negócio disseram ao Brazil Journal que a família Constantino terá o co-controle da holding por meio de um acordo de acionistas; ela também será a maior acionista do grupo Abra, com uma participação até três vezes maior do que a fatia do segundo maior acionista.
O movimento de criação da Abra é semelhante à aliança fechada entre Iberia e British Airways, que criou o Grupo IAG em 2011.
A Avianca Colômbia é uma companhia low-cost que combina hubs na Colômbia, Equador e El Salvador para conectar diferentes destinos na América do Norte, América Central, América do Sul e Europa. Ela também opera o programa de fidelidade LifeMiles, que assim como o Smiles, da Gol, está entrando nesse acordo.
Os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Aline Gil do BTG Pactual disseram que o acordo é positivo para a Gol porque dará acesso a uma oferta mais abrangente e complementar de voos, por conta da baixa sobreposição, além de acesso aos hubs internacionais da Avianca Colômbia. O negócio também vai impulsionar os programas de fidelidade e as operações de carga dentro do grupo.
Para os analistas do BTG, a Abra terá ganhos de escala e eficiência relevantes num cenário pós pandemia, de alta nos preços dos combustíveis e inflação de custos. O novo grupo, escreveram os analistas, terá mais capacidade de investimento e de competir com operadoras tradicionais na América Latina.
Os analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Leonardo Catto, do Santander, destacaram que o grupo terá mais poder de barganha na compra de aeronaves, além de grande conectividade de rede e possíveis acordos de codeshare.
“Não temos informações suficientes para avaliar a economia da transação e quantificar as potenciais sinergias para as empresas envolvidas neste momento, mas vemos a consolidação como um movimento positivo para o setor aéreo”, escreveram os analistas do Santander.
Um analista comentou que a operação também traz benefícios para a estrutura de capital na holding e deverá agradar os bondholders das empresas. “Ela vai diluir o risco econômico porque as empresas passam a operar em diferentes mercados e com uma cesta de moedas como fonte de receita”, disse o analista. Hoje, cerca de 85% da receita da Gol está em reais. No novo grupo, haverá uma receita mais expressiva em dólares.
A expectativa é que a criação da holding favoreça a obtenção de crédito por conta da nova escala e da capitalização, o que deverá melhorar a avaliação das agências de rating.
Roberto Kriete, presidente da Avianca, será o chairman do AbraGroup, que terá três co-presidentes: Constantino de Oliveira Junior, fundador da Gol; Adrian Neuhauser, CEO da Avianca; e Richard Lark, CFO da Gol.
A Gol disse que a operação não acarretará a obrigatoriedade de realização de uma oferta pública de aquisição de controle para os acionistas minoritários, uma vez que não haverá alienação ou transferência do controle acionário da empresa.