A demanda global por commodities agrícolas deve crescer dramaticamente menos na próxima década em comparação com a anterior.
As estimativas fazem parte do relatório Perspectivas Agrícolas 2022-2031, apresentado hoje em Paris pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em conjunto com a Organização para Agricultura e Alimentos (FAO) das Nações Unidas.
De certa forma, as projeções endossam a percepção do mercado de que o padrão de consumo de alimentos do mundo está mudando, indo além da relação de preços.
A demanda por itens que vão dos grãos às carnes, passando por commodities de uso industrial, deve crescer em média 1,1% ao ano até 2031 – uma queda de 45% em comparação ao que se observou na última década, quando a demanda teve um avanço médio anual de 2%.
Ainda que em ritmo menor, a demanda por alimentos segue crescendo. A expectativa é que a produção de commodities agrícolas permaneça concentrada nos atuais players globais, como o Brasil.
Após a guerra entre Rússia e Ucrânia – que interferiu diretamente na oferta dos dois importantes fornecedores e se refletiu nos preços internacionais – subsídios à produção e protecionismo tendem a ressurgir na próxima década.
Sob o argumento da segurança nacional, países que vinham sendo pressionados a reduzir o apoio a seus produtores podem voltar a elevar os subsídios.
As entidades estimam que ao longo da próxima década menos commodities agrícolas serão destinadas à produção de ração animal. O crescimento da demanda para biocombustíveis e outros usos industriais também deve arrefecer.
Para a China, o motor da demanda agrícola na última década, o relatório da OCDE espera uma desaceleração substancial. O ritmo de crescimento anual de 2,3% na última década cairá para 0,6% ao ano até 2031.
A demanda chinesa por grãos para a produção de ração, por exemplo, aumentará “apenas” 16% até 2031. Nos últimos anos, o país investiu na modernização do sistema de produção de aves e suínos, o que permitiu melhoras expressivas na conversão alimentar. (Na prática, os animais precisam comer menos para produzir mais carne.)
A China também não deve alcançar sua meta de misturar 10% de etanol à gasolina até 2031, mantendo-se nos 2% atuais. O mandato do E10 tinha, entre outros objetivos, reduzir os elevados estoques do cereal, o que efetivamente ocorreu. Com estoques menores, o incentivo para se aumentar o uso de etanol vem diminuindo.