Desde que assumiu o comando da Oi (como CEO interino em outubro, e efetivado no cargo em janeiro), Bayard Gontijo não teve um dia de folga, pelo menos a julgar pelas transformações na empresa desde então.
Com uma dívida líquida de 48 bilhões de reais em setembro, a Oi trabalhava com a faca no pescoço e corria o sério risco de dar um default, juntando-se à lista de empresas forçadas a renegociar sua dívida na recessão deste ano.
A mudança no comando da empresa — com a saída abrupta de Zeinal Bava depois que a Portugal Telecom perdeu quase 1 bilhão de euros num investimento mal feito em Portugal — só parecia complicar as coisas.
Mas a “herança maldita” caiu nas mãos de Gontijo que, com 13 anos de Oi, era então o diretor financeiro da empresa e parecia saber exatamente o que tinha que fazer. (Gontijo já havia visto de perto a agonia — e trabalhado na reestruturação financeira — de outra empresa de telecomunicações que flertou com o abismo e voltou para contar a estória: a Net.)
Um mês depois de assumir, demitiu 150 executivos, entre diretores, gerentes e consultores.
Em seguida, desenhou e aprovou junto aos acionistas um orçamento para 2015 que mais parece a “versão Oi” do ajuste fiscal de Joaquim Levy.
Cortou viagens, renegociou todos os contratos com fornecedores e botou o jurídico para rever todas as contingências judiciais, medidas que ajudam a melhorar o caixa da empresa. (Hoje, as luzes em todos os prédios da Oi se apagam automaticamente às 19 horas, uma iniciativa da área de operações, que, de quebra, ajuda a reduzir o gasto com horas extras.)
Gontijo simplificou as ofertas da Oi para que o cliente pudesse entender o que estava comprando, e não teve medo de aumentar preços.
Mas tudo isso seria cosmético se ele não lidasse com o câncer que ameaçava matar a empresa: sua dívida. Gontijo renegociou com os credores os limites de endividamento, vendeu torres de telefonia celular para levantar caixa, e, no lance mais importante, vendeu a Portugal Telecom — uma operação que vai colocar 18 bilhões de reais no caixa da Oi nos próximos meses.
Depois de cuidar da dívida, Gontijo ainda encaminhou uma proposta que acaba com o acordo de acionistas e dá direito de voto aos detentores de ações PN, fazendo com que a Oi passe a tratar todos os acionistas de forma igual – a mais importante ruptura com o passado da companhia.
Hoje, Gontijo está sentando numa cadeira muito mais confortável do que há seis meses, o que melhora seu poder de barganha no grande jogo da consolidação do setor – que, ele acredita, acontecerá este ano.
Na quinta-feira antes do feriado, Gontijo conversou com VEJA Mercados.