A valorização da Bolsa americana nos últimos anos produziu números impressionantes.

Sozinho, o mercado americano já responde por cerca de 70% de todo o market cap do planeta.

Da crise de 2008 para cá, o S&P 500 subiu em torno de 650%. Naquela época, o valor de mercado das empresas nos EUA era duas vezes maior que o das companhias listadas nas bolsas da União Europeia. Hoje? Quatro vezes maior.

Mas toda essa exuberância agora pode ser um risco. Para Steven Wieting, o estrategista-chefe e economista-chefe do Citi Global Wealth, existem oportunidades melhores que o S&P agora, dentro e fora dos EUA.

Uma delas são as empresas americanas de menor porte e alto crescimento – que na média perderam valor na última década enquanto as blue chips valorizaram.

Steven Wieting ok

Por razões diferentes, Wieting também está otimista com as Bolsas na Índia e no Brasil.

“O investidor precisa para os mercados de ações fora dos Estados Unidos – na média, eles estão 40% mais baratos do que estavam no primeiro mandato de Donald Trump,” ele disse ao Brazil Journal.

Abaixo, trechos da conversa:

Você já disse que estamos vivendo uma expansão sem regras da economia global. Como assim? 

Por duas questões. Uma delas é o ambiente de discórdia que existe atualmente, com o novo governo Trump e as mudanças nas relações comerciais entre países.

Além disso, houve um impacto significativo na economia causado pelo aumento dos juros em 2022 e 2023. Acredito que muitos investidores não perceberam isso.

Setores que dependem de expectativas de crescimento e são sensíveis a juros, como os de construção civil, manufatura e comércio, passaram por uma recessão em 2023. A recuperação só começou no ano passado.

Essa recessão ficou escondida porque foi compensada por uma forte recuperação do setor de serviços desde a pandemia – algo muito incomum. 

Qual a expectativa agora?

Existe um setor que está passando por um momento de boom, que é o de infraestrutura para inteligência artificial. Mas do ponto de vista macro, o nível de investimento geral ainda não é elevado.

O mercado de ações americano teve uma grande valorização nos últimos anos em razão da alta das large caps, em especial do setor de tecnologia.

Três empresas representam aproximadamente 20% de um mercado de US$ 50 trilhões.

Quando olho para os próximos dez anos, acredito que o retorno futuro será influenciado por diferentes fatores e classes de ativos.

Quais os ativos mais promissores, na sua visão?

As grandes companhias americanas subiram em média 13% ao ano na última década.

Enquanto isso, as small caps desvalorizaram, apesar de algumas terem crescido e elevado seu lucro por ação.

É verdade que as empresas de menor porte foram pressionadas pelo aumento do custo de capital em razão da alta dos juros, mas acredito que nos próximos dez anos elas serão mais competitivas e, em conjunto, podem superar o retorno do S&P 500.

Mas se os juros voltarem a subir nos EUA, haverá um impacto sobre essas empresas novamente.

Estamos distantes do ambiente de vulnerabilidade de 2022, e as taxas de longo prazo estão voltando às médias históricas. Mas sim, pode haver alguma pressão adicional nas taxas.

Nesse cenário, as empresas de maior risco são as que estão em setores cíclicos e têm fundamentos de baixa qualidade.

Evitamos, por exemplo, REITs alavancados e lojas de departamento tradicionais que fazem parte do índice Russell 2000. Não estamos overweight no Russell 2000 (índice de small caps do mercado americano).

Nossa alocação é formada por empresas pequenas e médias lucrativas que atuam em mercados de alto crescimento – como as que desenvolvem aplicativos e softwares ligados à inteligência artificial. 

Muitas delas podem, inclusive, ser incorporadas por grandes conglomerados. 

Empresas como a Nvidia e a TSMC são amplamente beneficiadas pelo desenvolvimento da infraestrutura de inteligência artificial. 

Mas a mera existência dos data centers não representa o estágio final da evolução da IA. O objetivo central é a criação de aplicações que aproveitem essa capacidade computacional.

Um setor mais especulativo, mas de grande interesse, é o da biotecnologia. Saúde é uma indústria de crescimento secular no longo prazo.

Não dá garantias de que os lucros futuros irão superar as estimativas, mas vemos oportunidades interessantes em equipamentos médicos, suprimentos e biotecnologia.

Você vê outras oportunidades na Bolsa além de pequenas e médias empresas americanas?

É essencial olhar para os mercados de ações fora dos EUA – na média, eles estão 40% mais baratos do que estavam no primeiro mandato de Donald Trump.

Apesar de os Estados Unidos terem um peso relevante no mercado acionário global, é improvável que a performance passada da Bolsa americana seja replicada, especialmente considerando que ela responde por cerca de 70% do valor de mercado mundial. 

Nesse contexto, Brasil, Índia e Japão são mercados atrativos hoje. 

A Índia é uma economia de rápido crescimento, que tem conseguido traduzir esse crescimento em retorno para os investidores, ao contrário da China. O Japão também mostra sinais positivos, com maior retorno e estabilidade.

Por que o Brasil voltou a ser interessante? 

Na média, as ações no Brasil estão com um valuation atrativo, e a economia é impulsionada pela demanda doméstica, de forma semelhante à indiana. 

O Brasil tem baixa exposição ao comércio exterior, o que o coloca na lista de economias menos vulneráveis a choques externos, o que é um risco hoje.

Além disso, a desvalorização acentuada do real já ocorreu, um fator importante para investidores estrangeiros. 

Acreditamos que o País tem potencial para oferecer retornos sólidos, principalmente no curto a médio prazo. Não olhamos para ações específicas, mas para o MSCI Brasil.

Como se proteger dos riscos?

A incerteza sempre existirá. Para se proteger, é importante diversificar e combinar ativos de baixo e alto risco. 

O mercado de renda fixa está mais atraente do que há alguns anos – uma boa oportunidade para equilibrar portfólios.

Além disso, é preciso aceitar que vivemos num ambiente de polarização geopolítica. Não é o ideal, mas é o que temos. 

Essa realidade cria novas dinâmicas de investimento, e os investidores precisam se adaptar a elas. É importante identificar os impactos negativos e também as possibilidades de mitigação de riscos por meio da construção estratégica do portfólio. 

A necessidade crescente de segurança cibernética e diversificação energética vão moldar os investimentos nas próximas décadas.

O setor de semicondutores apresenta um forte potencial de crescimento não apenas devido aos avanços em inteligência artificial, mas também em razão dos riscos associados às cadeias de suprimentos. 

Governos ao redor do mundo passaram a priorizar a criação de redes de fornecimento redundantes, o que, apesar de não ser a solução economicamente mais eficiente, impulsiona investimentos substanciais nesse setor.