Enquanto o brasileiro vive no crediário há décadas, os ingleses só agora estão descobrindo o conceito com o tal do “buy now, pay later.”

Mas para grupos de defesa do consumidor, algumas empresas estão levando a facilidade longe demais — banalizando o que significa tomar crédito.

A Zilch, uma fintech britânica de pagamentos parcelados, está incentivando seus clientes no Reino Unido a usar o “buy now, pay later” até para comprar aquela pizza barata que você acha no supermercado.

Em seu site, a Zilch destaca 11 itens “imperdíveis” na rede  Sainsbury’s, como a PizzaExpress Marguerita, que sai por £ 5, e o bolo triplo de chocolate Galaxy, por £ 3. (Buy now, get fat later!)

A Zilch diz que, com seu crediário, o cliente pode “empurrar os limites de sua existência cotidiana” e ficar “ainda mais perto de viver sua melhor vida.”

Esse tipo de marketing disparou um sinal vermelho entre especialistas em finanças pessoais.

Scott Mowbray, cofundador do app Snoop, que ajuda as pessoas a poupar, disse ao Financial Times que a Zilch tem um marketing que conversa com o “medo” que as pessoas têm de perder uma boa oferta, o que faz com que elas comprem só porque é fácil, ou barato.

“Isso pode levar a um ciclo de dívida, o que é ainda mais preocupante num momento em que o custo de vida está subindo. As pessoas não estão usando o serviço para fazer o supermercado e aguentar até o dia do pagamento; e sim para satisfazer seus desejos.”

O grupo de defesa do consumidor Resolver disse que “a Zilch está tornando mais fácil gastar” e fazendo isso “com um cartão que torna difícil acompanhar as dívidas, quanto o usuário está gastando e qual será o preço final da compra.”

Em sua defesa, a Zilch disse ao FT que a maioria de seus clientes faz compras grandes, em torno de £ 55- £ 65 – e não para compras de impulso – e que os usuários devem sempre verificar seus limites de crédito no aplicativo, onde os cartões virtuais são baixados.

O “buy now, pay later” tem feito sucesso nos Estados Unidos e na Europa por ser visto como uma alternativa mais barata aos cartões de crédito tradicionais, já que ele não cobra juros. No modelo, o consumidor paga 25% da compra à vista e divide o restante em pagamentos ao longo de seis semanas.

A Zilch tem sede em Londres e foi avaliada em US$ 2 bilhões numa rodada em novembro, quando captou US $ 110 milhões e atraiu a Ventura Capital, Gauss Ventures e a Goldman Sachs, que já era investidora.