Yuli Yamagata e Thiago Barbalho estão entre os novos artistas que a Pinacoteca de São Paulo selecionou recentemente para integrar seu acervo.

Em comum, ambos tiveram uma experiência determinante em suas carreiras: a residência no Pivô, uma instituição cultural localizada no icônico edifício Copan, no centro de São Paulo.

O Pivô abre portas para o mundo.

Em 2018, depois de passar por lá, obras de Thiago, Yuli e Flora seguiram para Lisboa, onde despertaram o interesse de galerias internacionais.

Idealizado pela curadora independente Fernanda Brenner e inaugurado em 2012 com a ajuda de uma rede de apoiadores, o Pivô preencheu uma lacuna na cena cultural paulista.

São Paulo conta com muitas galerias nacionais e algumas internacionais, grandes museus e faculdades de artes e instituições culturais, mas faltava um espaço independente e livre, onde os artistas pudessem refletir e experimentar, proporcionando ainda uma interlocução sem intermediação com outros artistas, pesquisadores e o próprio público.

Muito comum nos EUA e na Europa, espaços independentes como o Pivô são raros no país. Temos algumas residências artísticas – não ligadas a museus e faculdades – como a Despina, no Rio; o CA – Centro de Arte e Tecnologia, em Minas; o Maumau, em Recife; e o Instituto Inclusartiz, de Frances Reynolds, também no Rio. Entretanto, para um país do tamanho do nosso, com seu comprovado potencial artístico, ainda é muito pouco.

Para se manter, o Pivô conta principalmente com um leilão anual de obras doadas por artistas, que acontece amanhã.

Mais de 120 artistas capricharam nas doações, oferecendo 140 obras. Todos têm uma ligação muito forte com a instituição. Alguns são ex-residentes; outros já consolidados, como Leda Catunda, Paulo Pasta, Paulo Nazareth, Adriana Varejão, entre outros.

As obras começam com desconto de 30% sobre o valor de mercado e o objetivo é arrecadar R$ 2 milhões.

Vale lembrar que alguns dos artistas participantes não têm obras disponíveis para venda no Brasil, como os internacionais Haroon Mirza e Rodrigo Hernandez, criando uma oportunidade singular  para colecionadores experientes e para quem está começando a  montar sua coleção.

Santidio Pereira, por exemplo, representado pela Galeria Estação, expôs seus trabalhos na galeria Bortolami, em Nova Iorque – totalmente vendida – e doou uma obra linda no leilão. Para conseguir uma obra sua na galeria de São Paulo, é preciso entrar em uma lista de espera que já conta com 40 nomes.

O catálogo tem potências femininas em ascensão: Gokula Stoffel, Guga Szabzon, Julia da Mota, Maya Weishof, Tadáskía, Yasmin Guimarães, Rebeca Carapiá, Brisa Noronha e Ana Cláudia Almeida. Há também obras excelentes dos consagrados Thiago Mestre, Paulo PJota, Jac Lerner e Alexandre da Cunha.

É comum brasileiros que viajam para o exterior se orgulhar de ver obras de artistas brasileiros no MoMA, no Pompidou ou no Guggenheim. Mas chegar lá é muito difícil, e são poucos que conseguem superar todos os desafios no caminho. Por isso, participar de projetos culturais com impacto tão relevante, como o do Pivô, é mais que um privilégio, talvez seja mesmo uma obrigação.

Os valores auferidos pelas vendas do leilão vão custear a instituição e fomentar a arte nacional, enquanto o doador leva uma obra excelente de artistas consagrados ou em ascensão.

Os últimos lances poderão ser dados no dia 27 de novembro, a partir das 17 horas, quando acontecerá o pregão online, via iArremate (veja os lances já dados aqui). O evento também poderá ser acompanhado ao vivo no Pivô.

Rita Drummond escreve sobre arte no Brazil Journal.

Foto: Gui Gomes