Em 2010, quando o Governo capitalizou a Petrobras colocando 5 bilhões de barris de petróleo, aqueles barris foram avaliados em cerca de 72 bilhões de reais. Agora, com o acordo assinado ontem, o Governo está vendendo à Petrobras o direito de explorar mais 10 a 15 bilhões de barris por apenas 15 bilhões de reais (mais a parte que ficará com a União, igual a 48% do lucro gerado).

Esta comparação tem levado fontes do Governo a afirmar que a operação é um presente de ‘pai pra filho’.

A tese é válida mas, para ser intelectualmente honesta, a comparação tem que ser estendida.

É verdade que este pai ‘generoso’ está vendendo ao filho uma fazenda de 1 milhão de reais por apenas 200 mil. O que a comparação não mostra é que o filho felizardo está pendurado no cartão de crédito (dívida da Petrobras: 260 bilhões de reais) e que terá que investir ainda mais (dinheiro que não tem) se quiser fazer a ‘fazenda’ produzir e gerar renda.

Há outra grande ironia na história.

O mesmo Governo que enfraqueceu a Petrobras nos últimos anos — forçando a empresa a participar de 30% de toda a exploração do pré-sal, o que exige um investimento monstruoso, e congelando o preço da gasolina na bomba — agora dá, a esta Petrobras debilitada, a missão de explorar ainda mais áreas, o que obrigará um investimento ainda maior, e gerando uma dívida ainda mais cavalar.

“O problema da Petrobras hoje é caixa, não o tamanho de suas reservas”, diz um analista do setor.

Com amigos assim, a Petrobras não precisa de inimigos.

E com um pai esquizofrênico assim, não há filho que coloque suas finanças em dia.

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Um P.S. importante: A comparação entre os 5 bilhões de barris de 2010 e os 10-15 bilhões de agora não é perfeita. Nos 5 bilhões lá de trás, a Petrobras paga royalties de apenas 10% e fica com toda a produção.  No contrato de agora, ela paga 15% de royalties e deixa 48% da receita com a União. O retorno do investimento, portanto, é menor neste petróleo excedente.

P.S. 2 – Para ficar claro: os 15 bilhões a serem pagos pela Petrobras são compostos por dois tipos de pagamento: 2 bilhões à vista (chamados bônus de assinatura) e 13 bilhões a prazo (um adiantamento que a empresa fará ao Governo sobre a parte da União na partilha do lucro).