Em seu primeiro balanço trimestral completo pós-privatização, a Sabesp reportou um EBITDA 20% abaixo do consenso, impactado pelas provisões do programa de demissão voluntária (PDV) promovido pela empresa.
A métrica de geração de caixa cresceu 4,1% e chegou a R$ 2,3 bilhões no trimestre – abaixo das projeções do mercado, que apontavam R$ 2,9 bilhões.
O CFO Daniel Szlak disse ao Brazil Journal que a Sabesp desligou 2.039 funcionários e provisionou R$ 630 milhões para o pagamento de verbas rescisórias. Este plano de downsizing, disse o CFO, é uma das alavancas para o aumento de eficiência da companhia nos próximos anos.
O EBITDA do ano inteiro teve alta de 18,8% e chegou a R$ 11,3 bilhões.
Apesar do miss, a Sabesp reportou crescimento em todas as linhas do balanço.
A receita líquida cresceu 5,8% em relação ao mesmo período do ano passado e ficou em R$ 5,8 bilhões no tri encerrado em dezembro. No ano, o crescimento foi de 8,8%.
Já o lucro líquido disparou 64% no trimestre e 172% no ano – para R$ 1,9 bilhão e R$ 9,6 bilhões, respectivamente – puxado pelo modelo de bifurcação dos ativos da concessão adotado em 2024 após a desestatização.
“Com a conclusão da desestatização, a gente passou a separar os ativos em intangíveis e financeiros. Isso é contábil, mas tem um efeito grande no resultado do trimestre,” disse Szlak.
Sem o impacto, o lucro contábil da empresa seria de R$ 1,4 bilhão, alta de 21% na comparação anual – e abaixo do consenso, que apontava R$ 1,5 bilhão.
Segundo Szlak, o trimestre foi marcado por ajustes estratégicos internos, incluindo um maior foco na governança e no controle de custos.
Além do PDV, a Sabesp está mapeando todas as posições necessárias para a empresa avançar – como diz um press release da empresa – “cinco décadas em cinco anos”.
Um exemplo foi a contratação, por meio de uma consultoria, de 140 projetistas – o dobro do tamanho de toda a equipe interna de engenharia.
“Precisávamos de agilidade e, como éramos uma estatal, tudo era por meio de licitação. Agora conseguimos contratar com mais flexibilidade e controle,” disse Szlak.
O CFO também está olhando com lupa os gastos com energia. Atualmente, 55% da energia consumida pela Sabesp vem do mercado livre, e Szlak quer migrar outros 37% para essa conta.
(Os 8% restantes são de média e baixa tensão, o que dificulta a migração)
Como parte deste rearranjo, a Sabesp está olhando para o mercado de autoprodução incentivada.
“O foco agora na Sabesp é na eficiência. O próprio PDV é uma alavanca importante, com uma base de custos menor e impacto ao longo do ano,” disse. “Como não vamos ter reajuste tarifário em 2025, o nosso trabalho será todo voltado a encontrar alavancas operacionais. Eficiência é a palavra-chave.”
Em dezembro, a empresa anunciou que vai investir R$ 15 bilhões em obras no biênio 2025-2026 – de um total de R$ 60 bilhões que precisa investir até 2029.
Cerca de R$ 8,5 bilhões vão para o IntegraTietê, o programa de coleta e tratamento de esgoto que visa à despoluição do rio.
No ano passado, a Sabesp teve um capex de R$ 7 bilhões – acima do que a empresa projetava internamente (entre R$ 6 bilhões e R$ 6,5 bilhões), mas abaixo da expectativa do mercado (que esperava algo em torno de R$ 8 bilhões).
“Conseguimos acelerar bem, e mais importante do que o número em si foi a estruturação da governança do capex,” disse.
A empresa fechou o ano com alavancagem de 1,8x, em linha com a do terceiro tri.
Para realizar os investimentos, a empresa está indo ao mercado. Em novembro, a Sabesp levantou R$ 1,06 bilhão com o IFC, o braço de fomento do Banco Mundial, para financiar uma parte do IntegraTietê.
Uma crise hídrica, apontada como provável no fim do ano passado, também está descartada por ora, segundo Szlak.
“O quarto tri foi um pouco melhor. Estávamos com 49% de nível médio dos reservatórios. Não é desesperador, mas também não é ótimo,” disse.
O executivo disse que a nova gestão conseguiu realizar ações para diminuir o consumo de água em algumas regiões. A Baixada Santista, por exemplo, teve 30% menos reclamações sobre falta de água durante o verão.
A ação da Sabesp sobe 22% nos últimos doze meses e opera perto do seu high histórico. A empresa vale R$ 67,5 bilhões na Bolsa.