Larry Summers não é nenhum monetarista ortodoxo.
Historicamente ligado aos democratas, o ex-secretário do Tesouro no Governo Clinton e conselheiro de Barack Obama foi um dos primeiros a levantar a voz, no ano passado, contra o aumento extraordinário dos gastos públicos defendido pelo Governo Biden, prevendo que o pacote de incentivos causaria pressões inflacionárias.
Summers acertou na mosca. Agora, o economista prevê que os EUA não vão conseguir escapar de um pouso forçado na economia.
Em entrevistas nos últimos dias para a Barron’s, Bloomberg e NBC, Summers disse que, apesar de o Federal Reserve demonstrar empenho em fazer um “pouso suave” na economia, esse cenário é improvável. “Não julgo a competência do Fed. Mas é uma missão difícil,” disse ele.
Summers lembrou que a política monetária exerce sua plena potência com uma defasagem entre 9 e 18 meses. Ajustar a taxa de juros, disse ele, é um pouco como controlar a temperatura do chuveiro de um hotel velho.
“É muito difícil você não se queimar ou então congelar. Você abre um pouco a torneira, e parece que nada mudou. Mas, de repente, você precisa pular para fora da ducha. Esse é o tipo de problema do Fed hoje.”
O economista observou que sempre que o desemprego se encontra abaixo de 4% e a inflação acima de 4%, uma queda no PIB inevitavelmente ocorre dentro de no máximo dois anos. “Historicamente, quando temos uma inflação expressiva, nunca escapamos de uma retração na economia”.
A equipe de Biden errou, disse Summers, e será necessário criar “folga na economia” – aumento no desemprego e redução no ritmo de crescimento – para que a inflação, hoje acima de 8%, desacelere para “níveis aceitáveis.”
“Todas as previsões econômicas carregam incertezas. Mas meu melhor palpite é que teremos uma recessão,” ele disse ontem no Meet The Press, da NBC.
“Para conter a inflação, o Fed terá que subir os juros até o ponto em que a economia entrará em recessão. Penso que essa avaliação, que não era muito comum até dois meses atrás, é agora o cenário de muitos modelos estatísticos e acredito que será a visão de consenso.”
Summers disse não saber exatamente quando ocorrerá a retração no PIB, mas estima que isso deverá ocorrer antes do final do próximo ano.
Na sexta-feira, falando à Bloomberg, Summers já havia afirmado que considerava improvável uma desaceleração da inflação para perto de 2,5% no próximo ano, como prevê o Fed, sem que haja uma recessão.
“Certamente gostaríamos de ver um pouso suave, mas não creio que seja algo possível”, disse ele, levando-se em consideração a atual conjuntura do pós-pandemia. “Por isso há tanta incerteza nos mercados.”
Na conversa com a Barron’s, ele detalhou como anteviu a persistência da alta nos preços, enquanto a Casa Branca e o Fed afirmavam que o aumento seria temporário:
“Usei um método bastante simples. Olhei para o hiato do produto, que é a diferença do PIB corrente em relação ao seu potencial, e observei o nível de estímulos na economia. Vi que havia um déficit na massa salarial ao redor de US$ 30 bilhões ao mês, enquanto os estímulos eram de US$ 150 bilhões, até US$ 200 bilhões. Notei que havia uma formação de uma poupança considerável que estaria disponível a partir de 2021, em adição aos efeitos dos juros reais negativos e da expansão do balanço do Fed [o quantitative easing].”
Para Summers, sua convicção aumentou ao comparar o pós-covid com a crise financeira de 2008-2009. Durante a pandemia, em termos do hiato do produto, o estímulo aplicado à economia chegou a ser cinco vezes maior que o aplicado em 2008, “e ninguém achava que deveríamos ter tido cinco vezes mais estímulo em 2008-09.”
Antes da pandemia, Summers era mais conhecido por sua preocupação com a baixa inflação e as perspectivas de uma estagnação secular nos EUA.
Agora, ao fazer sua análise sobre a ameaça inflacionária, “fui influenciado pelo fato de eu não haver acreditado nos alarmes anteriores sobre a inflação, quando alguns monetaristas e conservadores estavam muito preocupados. Quando Bernanke iniciou o QE em 2009, ele descartou o potencial de inflação. Eu também. Quando Yellen elevou as taxas de juros em 2017, eu também não vi a ameaça da inflação. Mas depois da resposta à pandemia, eu vi uma espécie de ameaça inflacionária que não víamos há 40 anos e sabia que, em geral, eu não era alguém que via inflação em cada esquina.”