Nesta segunda-feira, a Oi terá a chance de tirar a corda de seu pescoço, pelo menos temporariamente.
Uma assembleia de acionistas da Portugal Telecom, marcada para as três da tarde, horário de Lisboa, vai decidir se aprova a venda da subsidiária PT Portugal (que agora pertence à Oi) para o grupo francês Altice.
Todos os grandes acionistas da PT são a favor de vender a subsidiária, uma operação que vai injetar 7,4 bilhões de euros (ou 23 bilhões de reais) no caixa da Oi.
Com uma dívida líquida de 48 bilhões de reais, a Oi precisa do dinheiro para reduzir sua dívida e/ou para tentar uma fusão com a TIM.
No entanto, políticos e sindicatos portugueses tentam adiar a assembleia. Representante desta corrente, o próprio presidente da assembleia, Antonio Menezes Cordeiro, tentou na semana passada adiar a votação, dizendo que o fato da Oi ter vendido os ativos portugueses significa que o acordo de fusão entre Oi e PT não teria mais sentido. A comissão de valores mobiliários de Portugal também pediu esclarecimentos, e são grandes as chances de isto adiar um pouco a assembleia.
É fácil entender a comoção nacional em torno do desmembramento da empresa. Três anos atrás, a PT era uma companhia grande e poderosa. Seu nome projetava a imagem de Portugal no mundo. Era dona de metade da Vivo no Brasil, um negócio redondo e líder de mercado.
Depois de vender a participação na Vivo, a PT investiu os recursos na Oi. Mas ao mesmo tempo, a cúpula da empresa resolveu ajudar um velho amigo em dificuldade: o Grupo Espírito Santo, acionista da empresa.
Deram azar. O Espírito Santo afundou e levou a PT junto. Os bons ativos da empresa agora estão indo para os franceses.
“É claro que tudo isso foi culpa da PT, mas as pessoas em Portugal estão emotivas e inconformadas,” diz um investidor que acompanha a saga de perto.
Os acionistas da PT apóiam a venda por um motivo, pode-se dizer, matemático: cerca de 70% dos ativos da PT hoje são ações da própria Oi, que se beneficiará muito com a venda. (Os outros 30% são os ativos portugueses, que estão sendo vendidos.)
A ação da Oi — administrada ativamente desde a privatização (quando ainda se chamava Telemar) pela Andrade Gutierrez e pela família Jereissati, em sociedade com o BNDES e fundos de pensão — estava, até um recente grupamento de 10 para 1, mais barata que um minuto de interurbano. Na sexta-feira, a ação preferencial da Oi fechou a 6,60 reais — a mínima histórica, quando se desconsidera o agrupamento.
Muitos investidores acreditam que as ações da empresa deveriam valer zero, primeiro porque a Oi tem dívida demais, segundo, porque eles não acreditam que haverá esta tão falada consolidação no mercado de telecomunicações brasileiro, o que ajudaria todas as operadoras com a redução da concorrência.
Mas se a venda da PT Portugal for adiante, a Oi ganhará tempo precioso, e, tendo em vista todo o cenário negativo embutido no preço atual, sua ação deve até performar bem no curto prazo.
É por isso que tanto os acionistas da PT quanto os da Oi torcem para que, em Lisboa, a racionalidade econômica prevaleça sobre a tentativa de reverter o leite derramado.