O BNDES e o Bradesco acabaram de estruturar o pacote de financiamento às companhias aéreas e esperam receber a concordância dos eventuais tomadores até o fim da semana que vem. O desembolso deve acontecer na segunda metade de junho.

O desenho final traz mudanças importantes em relação ao esboço original. Em vez de uma linha de R$ 10 bilhões para o setor, a exposição combinada do BNDES e do mercado às três aéreas será de no máximo R$ 6 bilhões — com a Embraer elegível a US$ 500 milhões adicionais e outros US$ 500 milhões em linhas de export finance tradicionais do banco. 

O BNDES tem dito repetidamente às aéreas que não fará desembolso sem que o mercado subscreva pelo menos um terço da dívida a ser emitida pelas empresas.  Uma recusa do mercado em participar seria um ‘deal breaker’.   

 
“Isso aqui não é um bailout clássico,” diz uma fonte do banco envolvida na estruturação. “É uma solução de mercado com participação do banco. Quem tiver acesso ao mercado de capitais deve acessá-lo diretamente.” 

As condições precedentes incluem ainda uma negociação das aéreas com seus lessors — os donos dos aviões — para obter extensão de prazos de pagamento. 

Como já reportamos aqui, a emissão de dívida é acompanhada por warrants, que dão a seu detentor o direito de comprar ações — daqui a cinco anos e no preço de mercado do dia da emissão — da empresa que tomar a dívida. 

A oferta das debêntures (indexadas ao CDI) e dos warrants deve ser feita num processo de bookbuilding no qual o retorno máximo para o investidor deve ser fixado em CDI + 14%. A subscrição das debêntures e dos warrants associados poderá ser feita pelos os três grandes bancos privados — que estão participando das conversas — bem como por investidores institucionais, incluindo FIAs e FIMs que desejarem exposição a nomes específicos do setor aéreo. 

No bookbuilding, será oferecida ao mercado uma debênture com taxa predeterminada, e o leilão se dará em cima dos warrants: o investidor terá que dizer o número de warrants que deseja receber. Quanto maior o interesse do mercado, menor será a diluição dos acionistas atuais. BNDES e Bradesco ainda estão afinando a mecânica do leilão. 

O banco estima que cada uma das três empresas aéreas — Azul, GOL e LATAM — poderá levantar até R$ 2 bilhões no mercado com estes instrumentos, com o BNDES dando garantia firme por dois terços da operação. (A linha disponível à Embraer deve ser de US$ 500 milhões e estruturada da mesma forma). 

Como já reportado, o exercício dos warrants deve levar à uma diluição dos acionistas atuais entre 20% e 25%. 

Uma pergunta que tem surgido em meio às discussões é se, no Brasil pós-pandemia, há espaço para três companhias aéreas. 

Executivos do banco dizem que há dificuldades técnicas para a LATAM conseguir se viabilizar como recipiente do pacote de ajuda. 

 
Como a companhia é sediada no Chile e opera em diversas jurisdições diferentes — Brasil, Chile e Colômbia são as mais relevantes — há dúvidas sobre a capacidade do BNDES (e demais credores) de recuperar garantias no evento de uma recuperação judicial em algum outro país.