Um remédio com markup de cerca de 40.000% – todo mês.  

Este pode ser o ganho atual da Novo Nordisk com o Ozempic, sua droga blockbuster de perda de peso e tratamento da diabetes.

A estimativa foi feita por pesquisadores de Yale, do Hospital King’s College e da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), e publicada hoje num jornal científico.

A Médicos Sem Fronteiras estima que os GLP-1s para diabetes “poderiam ser vendidos com lucro por apenas US$ 0,89 por mês, em comparação com o preço de US$ 95 por mês cobrados no Brasil, US$ 115 por mês cobrados na África do Sul, US$ 230 cobrados na Letônia e US$ 353 cobrados nos EUA, o que representa um markup de 39.562% sobre o que um medicamento genérico poderia custar,” a ONG disse num comunicado à imprensa.

“A margem de lucro é imensa,” disse à Bloomberg Melissa Barber, uma economista em Yale e co-autora do estudo. “Deveria haver uma conversa na política sobre qual é um preço justo.”

O estudo também apontou que o maior custo de produção do Ozempic é a caneta descartável utilizada para a injeção – que hoje custa US$ 2,83 por mês. Apesar do princípio ativo semaglutida ser caro de produzir (US$ 70 mil o quilo), o estudo diz que só uma quantidade pequena é colocada na dose mensal.

O restante dos valores fica dividido no preenchimento da caneta com o próprio medicamento e a adição de outros ingredientes químicos. 

A Novo Nordisk não abre os custos de produção do Ozempic e do Wegovy, outro medicamento utilizado para tratar a obesidade, mas se defendeu dizendo que 75% do seu lucro bruto é destinado a descontos.

Além disso, a farmacêutica afirmou que seus investimentos em P&D foram de quase US$ 5 bilhões no ano passado – um valor que deve aumentar este ano. 

O estudo joga luz sobre um problema que aflige o mundo todo (e principalmente os Estados Unidos): o alto custo dos medicamentos. 

O Governo Biden tomou medidas para reduzir o custo de alguns tipos de medicamentos por meio do Inflation Reduction Act, aprovado em 2022. 

Entre as medidas, a lei permitiu que o Medicare, o sistema de seguro de saúde gerido pelo governo, negociasse diretamente com as empresas farmacêuticas. 

Deu certo: no início deste ano, empresas como a própria Novo Nordisk, Sanofi e Eli Lilly estabeleceram limites mensais de US$ 35 para a insulina, o que representa descontos de até 75%. 

Ao mesmo tempo, as empresas sofrem com críticas de que, com a entrada do Medicare, economizaram milhões de dólares com gastos com intermediários. 

A ação da Novo Nordisk caiu 0,8% no pregão de hoje. A empresa vale US$ 440 bilhões na bolsa de Copenhague.