A queda nos preços de commodities agrícolas acendeu um sinal amarelo sobre as emissões de CRAs, alerta a Standard & Poor’s, em um relatório que acaba de ser publicado.

Esse é um ponto que deve ser levado em consideração por quem investe nesses títulos e também nos Fiagros, fundos que podem comprar esses papéis.

Segundo a S&P, o primeiro semestre foi marcado por uma queda de 25% nas emissões dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). A agência espera que haja uma retomada da colocação desses papéis – que são isentos de imposto de renda –, e um dos motivos é a maior demanda dos Fiagros.

Mas a S&P observa que o risco de crédito do agronegócio “carrega suas especificidades, e a recente queda dos preços de grãos deve pressionar a rentabilidade de produtores rurais”.

O preço da soja devolveu a alta ocorrida sob o impacto da guerra na Ucrânia e caiu aos menores patamares em três anos, apesar de uma ligeira recuperação nas últimas semanas. Em relação ao pico do ano passado, o tombo é de quase 30%.

No milho, a situação é semelhante e a queda foi ainda maior, ao redor de 40% frente a junho de 2022.

No relatório, os analistas Victor Nomiyama e Leandro Albuquerque dizem que esses fatores, somados a um ambiente de juros ainda elevados, “podem resultar em eventos de crédito,” sobretudo entre emissores menores.

Um aumento da inadimplência poderia exacerbar o que a agência classifica como “riscos não convencionais” nas operações de crédito estruturado do setor – entre eles, a excessiva concentração nas carteiras dos Fiagros e situações de conflitos de interesses.

Existe no mercado um grande volume de ofertas de fundos com originação própria dos títulos. Há casos em que os participantes envolvidos pertencem a um mesmo grupo econômico ou possuem estruturas societárias cruzadas – assumindo, segundo a S&P, “papéis potencialmente conflitantes.”

Nas originações próprias, destaca a agência, conflitos de interesse podem gerar maior tolerância na avaliação do risco de crédito de um devedor, menor transparência e potenciais falhas no processo de monitoramento dos ativos.

Ainda segundo a S&P, existem estruturas de CRAs e Fiagros com exposição a relativamente poucos ativos (entre 10 e 15), ampliando o risco de prejuízo para os investidores em caso de inadimplência.

Os problemas não param por aí. É comum a concentração em devedores de perfil semelhante – por exemplo, atuando na mesma região ou atividade agrícola – e expostos aos mesmos fatores de riscos – como eventos climáticos e particulares de uma região.

“Isso expõe a estrutura a um evento de cauda relevante,” afirmam os analistas.

O relatório cita eventos de crédito recentes que poderão impactar alguns Fiagros. Entre eles, houve a reestruturação das dívidas da Usina Serpasa e da Cooperativa Languiru, além da recuperação judicial da Usina Ester.

As emissões de CRAs ficaram em R$ 13,3 bilhões entre janeiro e junho de 2023, com 96 operações. No mesmo período do ano passado, foram 128 emissões, totalizando R$ 17,7 bilhões.