Internautas que passaram o domingo nervosos e agitados com um possível benefício fiscal do Itaú em sua doação histórica de R$ 1 bilhão já podem descansar tranquilos e, finalmente, comemorar a doação: o tal benefício não existe.
Numa conversa com jornalistas hoje cedo, o CEO do banco, Candido Bracher, foi enfático.
“Os recursos estão saindo do balanço do banco, serão investidos através de um endowment e não gozam de qualquer benefício fiscal em relação a qualquer outra despesa do banco,” disse Candido. Repetindo e traduzindo para o exército de céticos: o banco não deixará de pagar um real de imposto em virtude da doação.
O Itaú criou o ‘Todos pela Saúde’, um grupo médico multidisciplinar liderado pelo diretor-geral do Hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap. Além dele, outros seis médicos e especialistas em saúde integram o grupo e decidirão sobre a alocação dos recursos.
As decisões não terão nenhuma ingerência do Itaú.
O banco vai contribuir também disponibilizando profissionais como cientistas de dados e especialistas em gestão de projetos.
Além de Chapchap, o comitê é formado pelo médico Drauzio Varella, pelo CEO do Einstein, Sidney Klajner, e pelo presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (ligado à Fiocruz), Pedro Barbosa.
Desde o início da semana passada, o grupo vem se reunindo diariamente para definir as linhas de atuação. Por enquanto, foram determinados quatro pilares para a destinação dos recursos. O primeiro: a informação da população, com grandes campanhas de marketing para estimular, por exemplo, o uso de máscaras e a higiene das mãos.
O segundo pilar: a proteção dos profissionais da saúde e da população, com a disponibilização de equipamentos de proteção e o investimento na testagem em massa de toda a população.
O terceiro: o tratamento dos infectados. O ‘Todos pela Saúde’ vai formar gabinetes de crise para apoiar os estados e municípios mais afetadas, bem como investir no aumento da capacidade dos hospitais e na compra e distribuição de insumos estratégicos. Por fim, serão destinados recursos para a retoma da atividade no futuro, com o desenvolvimento de estratégias que garantam uma reabertura segura da economia.
Parte importante do trabalho será reforçar a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Vamos tentar fazer a diferença com medidas urgentes para ajudar o sistema público: equipar hospitais, buscar fabricantes nacionais para produção de materiais e equipamentos essenciais, ajudar com a expertise, na testagem em massa…” disse Chapchap, que conversou na semana passada com o Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta para entender as demandas do poder público.
Barbosa, cujo instituto é ligado à Fiocruz, reiterou que, para o retorno à vida normal, é essencial a testagem em massa da população. Hoje, a Fiocruz já desenvolveu uma estrutura robusta que garante a produção de centenas de milhares de testes. O desafio é como processar esses exames.
“A estrutura analítica precisa ser reforçada, e podemos chegar até o limite de patrocinar a construção de novos laboratórios se a estrutura atual não for suficiente para suprir a demanda,” diz Barbosa.
A doação do Itaú, que se soma a outros R$ 250 milhões que o banco já doara para o combate da pandemia, foi “motivada pela solidariedade”, segundo Candido, e teve o apoio unânime de todos os principais acionistas do banco e membros do conselho.
Para Chapchap, que conclamou outras empresas a seguirem o exemplo, vivemos tempos extraordinários que exigem medidas extraordinárias.
“O comportamento que cada um de nós tiver no enfrentamento da pandemia vai nos definir como empresas, como líderes e como sociedade.”