Durante muito tempo acreditou-se que o limite da longevidade humana estivesse próximo dos 120 anos – mas agora essa ideia está sendo questionada graças aos avanços acelerados da inteligência artificial.

Demis Hassabis, o CEO do Google DeepMind, propõe um projeto ousado que pode revolucionar a biomedicina: a criação de uma “célula virtual”. 

Esse modelo digital funcionaria como um simulador de voo – mas, em vez de aviões, simularia o funcionamento detalhado e dinâmico de uma célula viva.

Imagine uma célula real sendo copiada para dentro de um computador, permitindo que cientistas observem e testem como ela reage a diferentes situações sem precisar realizar experimentos físicos. 

Demis Hassabis ok

Se der certo, isso permitirá que os cientistas testem tratamentos e hipóteses sobre o envelhecimento de forma extremamente rápida, economizando anos de pesquisa e milhões de dólares.

A ideia parece futurista, mas o Google DeepMind já demonstrou grande sucesso nessa área com o AlphaFold, uma IA que prevê estruturas de proteínas com uma precisão sem precedentes. Essa conquista, inclusive, rendeu a Demis Hassabis um Nobel de Química. 

Como as proteínas são fundamentais para todas as funções corporais, conhecer suas estruturas acelera o desenvolvimento de novos tratamentos. Agora, o desafio é expandir isso para simular interações complexas entre múltiplas moléculas dentro de células inteiras.

Apesar do otimismo, criar uma célula virtual é um desafio enorme. Células têm milhares de componentes interagindo de forma dinâmica e complexa, exigindo algoritmos avançados e dados abrangentes, como sequências de DNA, proteínas, lipídios e outras moléculas.

Além disso, esses modelos precisam ser escaláveis para funcionar em diferentes organismos e níveis biológicos. É importante também garantir a transparência nos modelos de IA para facilitar a confiança dos pesquisadores nos resultados.

Outro desafio crucial é garantir a qualidade dos dados utilizados. Sem informações confiáveis e robustas, os resultados das simulações não serão precisos. Isso requer colaboração interdisciplinar entre biólogos, matemáticos, físicos, cientistas da computação e outros especialistas. 

Essa colaboração também é essencial para garantir a ética, a segurança e a privacidade, e para reduzir possíveis vieses dessa nova tecnologia.

O potencial, porém, é imenso. Empresas como a Altos Labs já investem na chamada reprogramação celular. 

Essa técnica busca “reset” as células para um estado mais jovem por meio de uma reprogramação genética. Para isso, usa um conjunto específico de genes que conseguem fazer com que as células retornem parcialmente ao estado inicial – num processo semelhante ao de reiniciar um sistema operacional que estava lento ou apresentando falhas, devolvendo-lhe sua eficiência original. 

Experimentos em laboratórios já demonstraram que células envelhecidas podem regenerar tecidos e recuperar funções perdidas – como até a visão – após serem parcialmente reprogramadas geneticamente. 

Se este método for validado em humanos, pode transformar profundamente a medicina e ampliar nossas expectativas de longevidade, apesar dos desafios que ainda precisam ser superados.

O Google DeepMind é parte da Alphabet – uma empresa que faz parte das carteiras de nossos fundos na IP – e lidera essa revolução biomédica como provedor de tecnologia, viabilizando pesquisas para acelerar o desenvolvimento das células virtuais.

Com avanços contínuos na IA, expansão dos bancos de dados biológicos e grandes investimentos financeiros, as células virtuais estão caminhando para se tornar realidade. 

É provável que nos próximos anos vejamos essas tecnologias sendo adotadas amplamente em laboratórios e clínicas, impulsionando novos métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças.

A combinação de IA com biologia celular está inaugurando uma nova era de descobertas científicas –  transformando profundamente como entendemos e tratamos as doenças, ampliando consideravelmente a qualidade de vida e a longevidade humanas. 

Talvez, de fato, o primeiro humano que chegará aos 150 anos já tenha nascido – e a inteligência artificial promete ser um acelerador dessa incrível conquista.

Pedro Cezar de Andrade é sócio da IP.