Escrevo estas linhas no inverno de Punta del Este, no Uruguai, local que visito com frequência. Minhas atividades favoritas por aqui são a prática de esportes e a leitura.

Porém, devo confessar que, com o avanço implacável dos anos, a porção dedicada à leitura tem aumentado gradativamente. Embora me considere em boa forma para meus 58 anos, já começo a sentir o peso da idade. Não sei se a passagem do tempo tem me deixado mais sensível, mas o fato é que me deparei aqui com situações que me remeteram a este tema.

A primeira foi um papo com um jovem de 20 anos, filho de um amigo, que reclamava ter encontrado muitos “velhos” de 30 a 35 anos em uma certa balada na noite anterior. Pois é, nada como ter apenas 20 aninhos, pensei eu…

A segunda foi uma senhora que vende raspadinhas e bilhetes de loteria na saída de um supermercado. Vejo-a há muitos anos — faça chuva ou faça sol, ela está sempre lá. Nestes dias, puxei conversa com ela pela primeira vez. Dona Chiquita tem 84 anos e é muito simpática. Precisa do trabalho para se sustentar e não reclama da vida. Parece satisfeita em estar ali, ainda com boa saúde, sentindo-se útil e interagindo com as pessoas. Passei a comprar raspadinhas dela — para a alegria dos meus filhos. Dona Chiquita é, sem dúvida, um exemplo para todos nós.

A terceira vivência aconteceu enquanto eu passava de bicicleta por uma casa antiga, provavelmente construída nas décadas de 1930 ou 1940, uma das últimas remanescentes na região central da cidade. O local, antes repleto de mansões de veraneio, foi tomado por prédios, lojas e restaurantes.

A casa tem uma varanda ampla onde sempre vejo um senhor — provavelmente com mais de 90 anos — que passa as manhãs sentado em uma poltrona, observando os passantes. Fica ali, horas a fio. O que será que ele pensa? Sua mente está ali, consciente, ou está vagando pelas lembranças do passado? Nunca conversei com ele. Infelizmente, acho que não terei mais essa oportunidade: nos últimos dias, a poltrona permanece vazia.

Todas essas situações me fizeram refletir, em algum grau, sobre o tempo e a importância de aproveitarmos cada momento da vida. Vivemos em uma era de demandas impossíveis, escolhas infinitas e implacáveis formas de distração protagonizadas pela tecnologia.

Lembrei, então, da contundente passagem do livro Quatro Mil Semanas, de Oliver Burkeman:

“A duração da vida humana é absurdamente, terrivelmente e insultuosamente curta. Assumindo que, em média, conseguiremos chegar aos 80 anos, teremos vivido quatro mil semanas. Parece pouco, não? E ainda, à medida que o tempo passa e as nossas semanas vão se esgotando sem parar, a sensação é de que, quanto menos delas nos restam, mais rápido as estamos perdendo.”

A reflexão é dura, mas fundamental. Afinal, é preciso nos conscientizarmos de que a vida deve ser vivida ao máximo — agora!

Por tudo isso, encerro estes pensamentos com uma fala atribuída a Galileu Galilei (1564–1642) que retrata a essência deste texto:

 “Certa vez, alguém perguntou a Galileu Galilei:

— Quantos anos tens?

Oito ou dez, respondeu Galileu, em evidente contradição com sua barba branca. E logo explicou:

— Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos, não os tenho mais.”

Fernando Goldsztein é fundador da The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Children’s National Foundation.