No início dos anos 2000, o Lance! era quase sinônimo de jornalismo esportivo: o jornal impresso chegou a ser o mais lido do Brasil nesse nicho, com uma circulação que ultrapassava os 150 mil exemplares por dia. 

Mas a queda veio tão rápido quanto o sucesso.

Já em 2012 o Lance! começou a sofrer com dificuldades financeiras, e cinco anos depois entrou em recuperação judicial. A pá de cal foi a pandemia: no ano passado, o Lance! encerrou sua edição impressa, que ainda respondia por boa parte da receita. 

Agora, três empresários estão tentando reerguer a marca com uma proposta 100% digital e um ambicioso plano de transformar o Lance! numa “plataforma completa de esportes” — e não apenas um veículo jornalístico.

Raul Costa Jr. (um ex-executivo da Globo, SporTV e RBS), Gustavo Agostini (dono do grupo Magus, de shoppings), e Rafael Thomé (o presidente da Maersk Supply Services no Brasil) compraram o Lance! no mês passado por R$ 25 milhões. 

A compra — feita num leilão judicial para ressarcir os credores — envolveu apenas a marca e os ativos digitais e, naturalmente, a nova empresa nasceu sem passivo. 

Walter de Mattos Júnior, o fundador do Lance!, ainda tem o direito de voltar a circular o jornal impresso quando quiser — algo que, convenhamos, só um maluco faria. 

“Encontramos uma empresa organizada dentro de um padrão de mídia tradicional e reproduzindo no online o modelo do jornal impresso,” Raul disse ao Brazil Journal. “Queremos transformar o Lance! numa companhia verdadeiramente de tecnologia, e não apenas de conteúdo jornalístico.”

Segundo ele, a ideia é que os torcedores encontrem conteúdo no site, mas também games, entretenimento e produtos ligados ao esporte.

Parte disso passa por um investimento em analytics: a nova gestão quer entender melhor os mais de 15 milhões de leitores que entram todos os meses no site do Lance!, usando essas informações para criar uma experiência mais assertiva.  

Apesar de 100% da receita do site já vir de anúncios, mídia programática e projetos especiais, como branded content, Raul diz que vê oportunidade de explorar melhor a receita publicitária.

“Os modelos de ofertas de produtos para publicidade digital são muito engessados. Tem muita coisa nova que podemos fazer e já estamos em conversas com o mercado para criar novos produtos,” disse o empresário.

Uma das ideias é criar projetos de associação de marca — em que as empresas poderiam, por exemplo, usar a marca Lance! em grandes eventos esportivos. “É uma marca muito querida pelos fãs de esportes, mas precisamos trabalhá-la melhor.”

Com as mudanças, a nova gestão espera faturar R$ 20 milhões no ano que vem, com uma margem EBITDA de 40%. Nos primeiros anos, o plano é não distribuir nada do resultado para os sócios e reinvestir tudo no crescimento do negócio. 

Raul diz que a audiência já aumentou 40% desde a compra, há um mês e meio, e o tempo de carregamento do site diminuiu de 9 segundos para 0.9 segundos, fruto de melhorias na infraestrutura. 

Na parte de jornalismo, a nova gestão também já fez alguns ajustes: está investindo pesado em vídeo — uma vertical praticamente inexistente no Lance! até agora — e nas redes sociais, onde o Lance! já tem 3,1 milhões de seguidores no Facebook e 600 mil no Instagram. 

Essa semana, o jornal lançou o Lance Rápido, um resumo em vídeo de 1 minuto para as redes sociais que vai compilar os principais acontecimentos do dia.

“Os resultados têm sido excelentes: lançamos dois vídeos na semana passada no Youtube, e um deles já teve 1 milhão de views e o outro, 700 mil,” disse Raul. 

Segundo ele, a ideia é contratar 12 pessoas para essa área nos próximos 30 a 60 dias, que vão se somar à equipe de cerca de 50 jornalistas do site.