O Banco do Brasil reportou um resultado para se esquecer no segundo trimestre, entregando um ROE de apenas 8,4%, reduzindo seu guidance de lucro para o ano e cortando os dividendos, um dos principais atrativos de sua ação.

Os números vieram 30% abaixo das expectativas já baixas do sellside, e levaram a uma queda da ação na abertura do mercado, depois do papel já ter despencado 17% desde o início do ano.

A queda só não foi maior porque o mercado já havia precificado em partes o resultado depois da divulgação dos dados do Banco Central há duas semanas, que mostraram que o BB havia lucrado apenas R$ 500 milhões em maio.

O lucro líquido ajustado veio em R$ 3,8 bilhões, com um ROE de 8,4%. Na comparação anual, a queda do bottom line foi de 65%; na sequencial, de 49%. 

O banco estatal foi pressionado mais uma vez pelo agronegócio, que vem passando por desafios estruturais e tem uma representatividade grande no portfólio do banco. O NPL 90 dias da carteira agro subiu 45 basis points no trimestre, na comparação sequencial, para 3,5%, sendo um dos principais detratores nesta frente. No total, o NPL 90 dias do BB subiu 35 bps, para 4,2%. 

A piora na qualidade dos ativos levou a um aumento das provisões para perdas, que subiram 74% ano contra ano, para R$ 17,4 bilhões. 

O resultado ruim levou o BB a revisar seu guidance para o lucro do ano, que era de R$ 37-41 bilhões e agora passou para um range de R$ 21-25 bilhões. Para alguns analistas, mesmo esse novo guidance parece otimista.

“Apesar do guidance apontar, no seu ponto médio, para uma importante melhora no lucro do segundo semestre, ainda achamos que a visibilidade é baixa. A impressão é que a base de início dos lucros para o terceiro tri é pior que a do segundo. O NPL continua piorando, não apenas no agronegócio, mas também no portfólio corporativo. Além disso, o equity não está crescendo,” escreveu Eduardo Rosman, do BTG.

Na call com analistas, a CEO Tarciana Medeiros disse o banco ainda deve ter um resultado “mais estressado” no terceiro tri por conta do agro, e que uma melhora deve vir só no final do ano.

Outra notícia que desagradou os investidores: para manter a liquidez, o BB teve que reduzir o seu payout, dos 40%-45% de hoje para 30%, o que vai levar a uma queda significativa dos dividendos previstos para o ano. 

Nas contas do BTG, se entregar o low do novo guidance, o Banco do Brasil estaria negociando a 5,4x seu lucro para o ano, com um dividend yield de 5,5%. No ano passado, o yield foi de mais de 10%. 

Mesmo com o múltiplo baixo, Rosman acha que é hora de passar longe da ação, dado que “acreditamos que a deterioração dos resultados está vindo de elevador, enquanto uma recuperação provavelmente vai ter que subir as escadas.”