O CEO da Totvs, Dennis Herszkowicz, tem uma relação antiga com a Linx.
Antes de comandar a gigante dos softwares, o executivo trabalhou quase 16 anos lá, como CFO e vice-presidente.
E justamente por conhecer as entranhas da concorrente, Dennis sempre viu a Linx como um M&A perfeito para a Totvs – tanto pela complementaridade de produtos quanto pela similaridade na cultura.
Demorou cinco anos, mas aconteceu ontem à noite: a Totvs vai pagar R$ 3,05 bilhões pela Linx, que havia sido adquirida pela Stone por R$ 6,7 bilhões em 2020 depois de uma disputa com – you guessed it – a própria Totvs.
A ação da Totvs abriu de lado na manhã de hoje, mas nesta conversa com o Brazil Journal, Dennis explicou o racional da transação e as sinergias que espera extrair da combinação.
Qual o racional desta aquisição? Como ela se encaixa na estratégia de vocês?
Sempre vimos a Linx como uma empresa muito complementar à Totvs. Quando vemos os segmentos da Linx, são segmentos em que na maioria das vezes a Totvs não tem produtos: softwares para redes de farmácias, softwares para postos de gasolina, para redes de fast food, e por aí vai. São coisas que não temos no portfólio da Totvs.
Do outro lado também vemos que o modus operandi da Linx — e eu passei 16 anos lá, conheço bem como eles operam — é muito parecido com o jeito de operar da Totvs. Isso gera uma facilidade de integração em todos os níveis muito grande, inclusive no cultural.
Quais as principais sinergias que vocês enxergam entre as duas empresas?
Tem sinergias muito grandes de colocar esse portfólio da Linx dentro de uma plataforma de distribuição que é reconhecidamente muito poderosa e com uma cobertura geográfica incrível.
Isso sem falar no portfólio da Totvs, que gera um potencial de cross sell na base da Linx. A suíte de human capital resources, o portfólio da RD, a techfin… São possibilidades de cross sell muito interessantes.
E sempre foi assim, por isso em 2020 tivemos a primeira disputa. Sempre achamos que essa era uma transação importante com um valor estratégico grande.
As principais sinergias são de receitas então? Ou vocês veem também sinergias de custo?
Certamente o principal está na receita. Mas o modus operandi da Linx é muito similar ao da Totvs, então isso vai gerar oportunidades de custo também. Mas disparadamente estamos falando de possibilidades de vender mais, de atender melhor o cliente, e de avançar na cadeia de valor. Hoje eu consigo resumir a estratégia da Totvs em uma frase: aumentar a relevância nos nossos clientes. A Linx claramente ajuda nesse sentido.
Hoje vocês já tem uma operação relevante no varejo?
A Totvs sempre operou no varejo. Desde o backoffice do ERP, que é um produto mais horizontal, mas também temos atuação importante com distribuidores, atacadistas e supermercados. Temos operação para restaurantes de mesa, e compramos há uns seis meses a Varejo Online, que é uma empresa com soluções para redes de franquias. Temos muita coisa da Totvs que pode ser ofertado para os clientes da Linx.
Vocês já fizeram uma projeção do tamanho das sinergias?
Ainda não fizemos essa projeção. O que posso falar é isso, que vemos muitas oportunidades. É uma operação de mais de R$ 1 bilhão de receita.
A Linx vai aumentar em quantos por cento a receita e o EBITDA da Totvs?
A Linx vai ter uma representatividade importante para nós. Quando olhamos o valor de mercado, a Totvs está valendo R$ 25 bilhões e a aquisição foi de R$ 3 bi, então dá um pouco mais de 10% do market cap. Já em receita, a Linx faz R$ 1,1 bi e a Totvs faz R$ 5,2 bilhões, então dá um aumento de 21%. Em EBITDA, o aumento é parecido.
Olhando o preço pago agora e comparando com o valor que a Stone pagou em 2020, parece que foi um bom preço, ou que eles tinham pago caro lá atrás. Mas o que dá pra dizer sobre o preço da aquisição para mostrar que ela foi accretive para vocês?
2020 era outro momento de mercado em todos os sentidos. Essas comparações sei que todo mundo gosta de fazer e que dão manchete, mas são momentos diferentes de mercado. Não acho que são comparações corretas.
Mas somos muito disciplinados em M&A. e o valor pago agora mostra isso. Que fomos muito disciplinados.
Se olhar o múltiplo pago versus o da Totvs, tem um desconto importante de múltiplo. A compra saiu a 2,7x EV/Sales, enquanto a Totvs negocia a 4,2x. O desconto é ainda maior se olhar a média das transações recentes no setor, que é de 4,5x.
O pagamento da aquisição vocês vão fazer com caixa ou vão buscar financiamento?
Vai ser uma combinação do caixa da Totvs com instrumentos de dívida. Mas ainda não temos definido quanto vai ser caixa e quanto vai ser dívida. Todos os bancos já nos acessaram para oferecer o financiamento, mas a gente é muito caxias nisso. Só vamos começar a tratar desse tema agora.
Que impacto isso terá na alavancagem da Totvs?
Hoje, a gente tem zero de endividamento. E se somarmos a Dimensa, estamos com uma posição de caixa líquido. Então temos bastante tranquilidade em relação a nossa capacidade de alavancagem e de pagamento desse endividamento. Além disso, a Linx tem gerado muito caixa neste momento, é bem rentável.
A Linx tinha um acordo comercial com a Stone na parte de serviços financeiros. E vocês tem a JV com o Itaú, a Techfin. A ideia é que a Linx passe a operar com a Techfin a partir de agora?
Isso já está definido. A Linx vem para a Totvs quando o CADE aprovar sem nenhum tipo de compromisso com a Stone. Qualquer compromisso que existiu e existe hoje não vai mais existir no fechamento da transação. Vamos ter liberdade para operar com quem entendermos. E como temos essa joint venture com o Itaú achamos que tem oportunidades muito grandes nesse sentido.