Em maio do ano passado, os controladores da Gol e os da Avianca — os fundos Elliott Internacional, Kingsland e South Lake — anunciaram a criação de uma nova holding para controlar as duas empresas. 

Na manhã de hoje essa holding, o Abra Group, se comprometeu a injetar US$ 400 milhões no caixa da Gol, entre outros financial commitments.

Esse capital será usado para modernizar a frota de aviões da companhia e para liability management (a gestão de ativos e passivos).

A Gol deu a notícia num fato relevante tão extenso quanto confuso, que deixou analistas do sellside e do buyside cheios de dúvidas. De quebra, a companhia não agendou nenhuma call com o mercado para esclarecer as perguntas – e, quando os analistas ligavam, ninguém atendia o telefone. 

O movimento também vai permitir à Gol alongar o perfil do seu passivo, desfazendo-se de dívidas que venciam em 2024, 2025 e 2026.

“Se isso se concretizar é algo muito positivo para a Gol,” disse um analista do sellside. “Eles precisavam de caixa e isso traz liquidez, vai permitir aumentar a frota para a operação e com isso gerar mais receita. Eles resolvem a necessidade de caixa de 2023 e jogam as dívidas de curto prazo para a frente.”

Pelo que se depreende do fato relevante, a transação inclui várias partes. 

Primeiro, os acionistas da Abra e detentores de bonds concordaram em injetar US$ 175 milhões e US$ 243 milhões na Abra, respectivamente. Esses recursos vão financiar a estrutura proposta pela Abra para reperfilar a dívida da Gol.

A Abra também vai emitir US$ 350 milhões em títulos conversíveis com garantia  e US$ 637 milhões em outras dívidas com garantia (senior secured notes). 

Em seguida, a Gol vai emitir US$ 1 bilhão em senior secured notes que serão compradas pela Abra. Essa dívida vencerá em 2028, pagará 18% em dólar e terá a Smiles como colateral. Na sequência, a Abra comprará com desconto (e vai cancelar) dívidas da Gol que somam US$ 680 milhões. 

Ao final da operação, a Abra se tornará o maior credor da Gol e a companhia terá fôlego financeiro para os próximos três anos. Com os recursos, a posição de caixa da Gol deve sair de R$ 600 milhões no final do terceiro tri para R$ 2,7 bilhões. 

“Por um lado, a transação oferece algum alívio para a situação de saída de caixa da Gol entre 2024 e 2026 (sem mudar seu nível de dívida líquida) e evidencia as fontes de recursos disponíveis para a companhia,” escreveu Daniel Gasparete, o analista do Itaú. “Por outro lado, nos chamou a atenção o alto custo da dívida da transação (18% em dólar).”

O Itaú nota ainda que a injeção de capital de US$ 418 milhões na Abra representa 84% dos US$ 500 milhões que ela precisa para concluir a transação, como definido no acordo de maio passado. 

“O deal, portanto, ainda depende dessa injeção de capital adicional e do cumprimento de algumas obrigações e condições precedentes,” escreveu o banco.