O novo CEO da Goldman Sachs atende por David Solomon durante o expediente – mas na balada você pode chamá-lo de D-Sol.
De boné, camiseta e tênis, D-Sol ataca de DJ num balneário nas Bahamas, onde tem casa de veraneio, e já tocou em boates hypadas de Manhattan e Los Angeles.
O hobby é coisa séria. D-Sol tem mais de 10 mil seguidores no Instagram, onde posta vídeos e anuncia seus próximos gigs. Ele acaba de lançar seu primeiro single, disponível no Spotify: um remix de “Don’t Stop”, um sucesso de 1977 da banda Fleetwood Mac – trazendo, em suas próprias palavras, uma ‘happy, house party vibe to a timeless classic’.
Na Goldman, Solomon terá que replicar o que faz por trás da picapes: dar um ritmo novo a uma instituição consagrada, tornando-a capaz de navegar num mundo onde as receitas com trading que ajudaram a construir a Goldman são muito mais incertas.
Solomon já vem sinalizando que será mais seletivo nas regras de parternship e deve simplificar a estrutura de tomadas de decisão – ou, em bom português, mudar a cultura de muito cacique para pouco índio da casa.
Com passagens pela Salomon Brothers e Bear Stearns, Solomon chegou à Goldman já como sócio em 1999 para estruturar a área de distressed bonds – num movimento pouco usual na casa, que costuma dar sociedade apenas às pratas da casa.
De lá para cá, sua ascensão foi meteórica. Solomon liderou por dez anos a área de investment banking, que sob seu comando se tornou a maior dos Estados Unidos em termos de receita, e foi alçado a COO, apenas um degrau abaixo do CEO Lloyd Blankfein, que deixará o cargo no fim de setembro.
A sucessão na Goldman – uma casa vetusta que frequentemente exporta executivos para o governo americano – expõe os desafios de Wall Street na era pós-crise.
Com uma das áreas de trading mais ativas do mercado, a Goldman atravessou a hecatombe da crise dos derivativos de 2008 sob o comando de Blankfein, e sobreviveu (como a maioria de seus pares) graças a um socorro épico do Governo americano.
Mas, desde então, nunca mais foi a mesma. Com a regulação mais apertada e mercados cada vez mais dominados por fundos passivos e ETFs, a área de trading da Goldman, que já chegou a faturar US$ 1 bilhão em fees em apenas 10 dias nos tempos áureos, hoje leva cerca de 10 semanas para embolsar a mesma quantia.
A solução foi buscar alento no varejo – um segmento de margens gordas mas sempre relegado pelo banco. Há pouco mais de dois anos, a Goldman lançou o Marcus, um app que oferece empréstimos pessoais a consumidores que se afogam na dívida de cartão de crédito, e desde então vem montando uma nova operação, também com estrutura de fintech, para oferecer às massas de apólices de seguro a gestão de patrimônio.
De inovação, o DJ entende. À frente do investment banking, ele foi responsável por estreitar os laços com a comunidade de startups. Em 2012, criou o Builders + Innovators Summit, uma conferência anual na qual os fundadores de grandes startups batem cartão e que consagrou o banco com um dos underwriters mais ativos no mercado de tech.
Segundo o The Wall Street Journal, Solomon deixou claro que quer mais agilidade – e que vai atropelar alguns egos no meio do caminho.
A primeira mudança será esvaziar as atribuições do comitê de gestão, que se reúne toda segunda-feira de manhã para ditar os rumos da companhia. Herança de quando a Goldman ainda operava como uma partnership de capital fechado, o comitê, que era formado por uma dúzia de líderes, mais que dobrou de tamanho nos últimos anos. Solomon pretende fazer um comitê paralelo, apenas com executivos das áreas-chave, replicando o que fez no investment banking.
Os líderes de cada área também terão que dar mais satisfação. Em vez de projeções anuais, o novo CEO quer um planejamento para os próximos três anos, com detalhes de receitas, custos, planos de contratação e iniciativas para aumentar a cobertura de clientes institucionais.
O DJ que gosta dos holofotes também promete ser um CEO mais transparente com o mercado: já planeja o primeiro Investor Day da Goldman para 2019. Resta saber se D-Sol vai dar uma palinha.