Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig receberam o Nobel de Economia de 2022 pela sua pesquisa sobre crises financeiras e a função das instituições financeiras em conseguir evitar o caos durante esses períodos críticos.
Não se trata de pesquisas realizadas no curto prazo, mas sim de estudos feitos nos anos 1980 – até porque nenhum Nobel se constrói sem pesquisas que tenham contribuição sólida o suficiente, e as descobertas mais relevantes precisam de décadas de análise.
Diamond e Dybvig se debruçaram sobre como instituições financeiras são a ferramenta prática mais eficiente na economia para fazer a ponte entre a poupança das pessoas (de um lado) e a realização de investimentos (do outro), permitindo ao mesmo tempo um meio seguro de juntar recursos no curto prazo e financiar atividades num prazo mais longo.
A ideia principal trazida pela dupla é que, para além do efeito do fluxo financeiro que passa pelas instituições financeiras, elas também possuem um conjunto de informações bastante relevante para os mercados. Não se trata simplesmente de dinheiro circulando, mas de como, para quê e quais são as demandas que esse dinheiro consegue suprir.
Bernanke teve sua contribuição reconhecida por ter analisado a Grande Depressão dos anos 1930 nos EUA e, diante da quebra de diversos bancos, sobre como a perda de informações gerou a quebra do fluxo positivo de recursos que foi descrito por Diamond e Dybvig.
A conexão entre as duas pontas (de Diamond e Dybvig com a de Bernanke) acontece através do seguinte ponto: sabendo que em um momento de crise financeira é possível que instituições venham a quebrar e que elas contam com um fluxo informacional importante para os mercados de maneira ampla, é preciso que sejam tomadas ações diretas para evitar essa quebra generalizada.
E é justamente aí que entra uma novidade desse prêmio: ele é concedido pelo aspecto acadêmico, mas também a uma pessoa que teve contribuição empírica neste mesmo assunto de maneira bastante direta. Bernanke foi presidente do Fed entre 2006 e 2014, pegando o bastão de Alan Greenspan e liderando a autoridade monetária dos EUA justamente durante a maior crise financeira desde 1929.
Curiosamente, o Nobel de Bernanke vem no momento em que o Fed de Jay Powell começa a reverter a liquidez extraordinária que começou a ser injetada por Bernanke no pós-crise de 2008 – e acelerada durante a pandemia.
Tomara que a recessão que se avizinha em decorrência dessa retirada de liquidez não se torne assunto de um Nobel daqui a 20 anos…
Caio Augusto é head de conteúdo do site Terraço Econômico.