A Long-Term Stock Exchange, uma Bolsa dos EUA que se diz especializada em companhias que priorizam as metas de longo prazo, quer acabar com o ritual dos balanços trimestrais.

“Ouvimos muito a respeito de como é excessivamente oneroso ser uma empresa de capital aberto”, Bill Harts, o CEO da LTSE, disse ao Wall Street Journal. Para ele, o fim dos relatórios trimestrais é “uma ideia cuja hora chegou.”

Segundo o Journal, a LTSE planeja encaminhar uma petição à Securities and Exchange Commission sugerindo o fim da obrigatoriedade de publicação dos balanços trimestrais. A divulgação passaria a ser semestral, e valeria não apenas para as companhias de capital aberto.

Jamie Dimon

Nos EUA há cerca de 3.700 companhias com ações negociadas na Bolsa – uma queda de 17% em relação a 2022 e quase metade do pico de 1997.

Em 2018, em meio a um movimento empresarial para reavaliar as exigências regulatórias, Jamie Dimon, o CEO do JP Morgan, e Warren Buffett defenderam o fim do guidance trimestral em um artigo no Wall Street Journal e numa entrevista à CNBC.

“O ‘curto-prazismo’ está prejudicando a economia,” dizia o título do artigo.

“Reduzir ou mesmo eliminar as projeções de lucros trimestrais não eliminará, por si só, todas as pressões de desempenho de curto prazo que as empresas de capital aberto dos EUA enfrentam atualmente, mas seria um passo na direção certa,” escreveram Dimon e Buffett.

“Em nossa experiência, o guidance de resultados trimestral muitas vezes leva a um enfoque não saudável nos lucros de curto prazo, em detrimento da estratégia, do crescimento e da sustentabilidade de longo prazo,” disseram. 

Na opinião de Dimon e Buffett, tudo que os mercados acionários dos EUA puderem fazer para “focar no futuro e construir riqueza e oportunidades de longo prazo tornará o país mais forte, resiliente e competitivo.”

“A longo prazo, isso fortalecerá a economia americana, beneficiará os trabalhadores, acionistas e investidores americanos e deixará um legado geracional do qual podemos nos orgulhar,” afirmaram Dimon e Buffett.

A SEC instituiu a exigência de publicação trimestral em 1970. Na Europa a obrigatoriedade já caiu há mais de uma década – embora muitas empresas ainda publiquem os balanços trimestrais, até porque boa parte delas seguem as exigências do mercado americano.

As companhias mais negociadas provavelmente continuaram divulgando números trimestrais, em razão da demanda dos analistas e dos investidores.

No Brasil, as empresas de capital aberto precisam necessariamente publicar balanços trimestrais por exigência tanto da CVM como da B3. 

Os defensores da obrigatoriedade listam fatores positivos como maior transparência, redução da assimetria da informação entre insiders e observadores externos, disciplina na gestão operacional e maior liquidez dos papéis.