Sentado numa pilha de US$ 100 bilhões em caixa, Warren Buffett deu um novo voto de confiança ao crescimento da economia americana.
A Berkshire Hathaway anunciou hoje a compra de 38,6% da Pilot Flying J, a maior empresa de paradas de caminhões nos Estados Unidos e a 15ª companhia privada do país, com um faturamento na casa dos US$ 20 bilhões. Pelo contrato a fatia chegará a 80% em 2023. Os valores não foram revelados.
Com 750 paradas nos Estados Unidos e no Canadá e mais de 27 mil empregados, a Pilot Flying J diz ser a maior vendedora de diesel do país. A maior parte da receita vem da venda de combustíveis, mas a companhia oferece uma série de serviços de conveniência, como locais para descanso, manutenção dos caminhões e alimentação.
Um misto de Raízen com Frango Assado, a companhia ganha dinheiro tanto com o aluguel do espaço para grandes redes de fast food, como Burger King e McDonald’s, quanto com operações próprias de alimentos e varejo.
“A margem em combustíveis não é tão alta, mas eles fazem uma margem EBITDA bem melhor com esses serviços de maior valor agregado”, disse um investidor brasileiro que já estudou de perto o modelo de negócios da companhia (a Pilot não publica seus balanços). “O nível de serviços deles é impressionante, há pátios que comportam mais de 1.000 caminhões”.
Apesar de transportar a maior parte de suas cargas pelas ferrovias, a ‘última milha’ nos Estados Unidos é feita pelas estradas.
“Mais mercadorias vão ser transportadas para cada vez mais pessoas nos Estados Unidos conforme os anos vão passando – e eu aposto um bom dinheiro nisso”, disse Buffett em entrevista ao The Wall Street Journal. A Berkshire já tem participação em empresas aéreas e na Burlington Northern Santa Fe, uma das maiores ferrovias do país.
O mercado de conveniência para a fila de caminhões que cruza o país começou a se consolidar na década de 1960.
A Pilot Flying J nasceu em 1958, quando Jim Haslam, chairman do grupo e pai do atual CEO, abriu seu primeiro posto de gasolina. A empresa foi comprando outros postos e sofisticando seus serviços. Em 1993, firmou um joint venture com a rede de postos Marathon Petroleum, que se tornou sócia com 47% de participação.
Em 2008, essa participação foi vendida para a CVC Capital Parterns, num dos primeiros investimentos feitos pela firma britânica de private equity nos Estados Unidos. Um ano depois, a Pilot se fundiu com a Flying J, que estava em recuperação judicial. Em 2015, os Haslam recompraram a participação da CVC – que, reza a lenda, multiplicou seu investimento por quatro.
Além da Pilot, há outros dois grandes players no setor: a Love’s, que tem pouco mais de 400 locações e fatura US$ 24,4 bilhões, e a Travel America, listada na Nasdaq, com 500 paradas e faturamento de US$ 5,5 bilhões.
Apesar de diversificação de serviços, a Pilot Flying J depende muito dos preços do petróleo. Em 2012, faturava US$ 31 bilhões, mas a receita caiu drasticamente com a redução do preço do barril.
O desempenho da Travel, a única que publica oficialmente seus números, mostra uma trajetória parecida: o faturamento caiu 30% nos últimos cinco anos. No ano passado, 65% da receita veio da venda de combustíveis e os 35% restantes, de outros serviços. O lucro operacional foi de apenas US$ 22 milhões e empresa fechou no vermelho, em US$ 2 milhões.
Pelo acordo firmado hoje, a família Haslam vai manter 50,1% do negócio e os Maggelet, fundadores da Flying J, ficarão com 11,3%. Em seis anos, a Berkshire vai comprar a fatia restante dos Maggelet e mais 27% dos Haslam, que passarão a ser minoritários.
O CEO Jimmy Haslam seguirá à frente do negócio. Ele é irmão do governador do Tennessee, Bill Haslam, e dono do time de futebol Cleveland Browns.