A Viterra — uma trading de grãos controlada pela suíça Glencore — está em conversas para se fundir com a Bunge, numa transação que criaria um gigante do setor e teria repercussões para todo o mercado.
As conversas foram reportadas em primeira mão pela Bloomberg na sexta-feira.
Se a transação for adiante, ela dará origem a uma companhia com mais de US$ 100 bilhões em faturamento, com cerca de US$ 67 bilhões vindo da Bunge.
No ano passado, a Bunge foi a maior exportadora de milho e soja do Brasil, e é a principal fornecedora de matéria-prima para a fabricação de ração animal e biocombustíveis do mundo. Já a Viterra foi a terceira maior exportadora de milho e a sétima em soja.
Segundo a Bloomberg, os termos da transação ainda estão sendo discutidos pelas duas empresas, mas uma das opções na mesa seria uma troca de ações com os acionistas da Bunge se tornando os controladores da nova empresa.
A transação, no entanto, pode esbarrar nos órgãos antitruste. O mercado de grãos já é extremamente concentrado, com a Bunge e outras três trading companies (ADM, Cargill e Louis Dreyfus) dominando o setor há mais de um século.
Essas quatro empresas — conhecidas como ‘ABCD’ pelas iniciais de seus nomes — respondem por mais de 75% de todo o mercado global de grãos, além de boa parte da cadeia de processamento.
“Essa indústria já é altamente concentrada, então alguns desinvestimentos devem ser exigidos, o que poderia reduzir o potencial das sinergias,” um analista da Morningstar disse à Bloomberg.
A Glencore comprou a Viterra em 2012 por US$ 4,5 bilhões, ganhando ativos de grãos no Canadá e na Austrália. Quatro anos depois, vendeu cerca de metade das ações para o CPPIB e o British Columbia Investment Management.
Essa não é a primeira vez que a Glencore tenta fundir a Viterra com a Bunge. Em 2017, ela abordou a Bunge sobre uma aquisição amigável, mas a ideia foi rejeitada pela americana.
De lá para cá, no entanto, a Bunge trocou seu CEO e parte importante da diretoria. Para alguns analistas, o novo management parece mais aberto para uma fusão em comparação à antiga liderança, que sequer considerou a oferta.
A potencial fusão vem num momento em que as tradings de grãos estão sentadas numa pilha de dinheiro depois de terem resultados recordes por conta da Guerra da Ucrânia.
Com o conflito, e a disrupção das cadeias de suprimentos globais, os preços dos grãos dispararam e a oferta ficou mais apertada — o que turbinou o lucro dessas companhias.
A Bunge está em um de seus melhores momentos operacionais dos últimos anos. Desde 2019, com a entrada do CEO Greg Heckman, a companhia vem cortando custos e ajustando o negócio com a venda de ativos que estavam performando mal.
SAIBA MAIS
Em ‘World for Sale’, as entranhas dos traders globais de commodities