O jornalismo perdeu ontem um pouco de seu engenho e arte na figura de Moacir Japiassu — ‘Japi,’ para quem teve a felicidade de lhe ser próximo.
Paraibano de João Pessoa, Japi se mudou para Montes Claros na adolescência, depois fez carreira em Belo Horizonte e São Paulo.
Passou por VEJA, IstoÉ, Placar, Elle, e ajudou a lançar a Pais e Filhos. Nos anos 80, foi editor-chefe do Fantástico em São Paulo.
Mais tarde, Japi se retirou para Cunha, cidadezinha na fronteira do Rio com São Paulo, onde passou seus últimos anos e foi enterrado nesta quinta.
No Estadão de hoje, Alberto Dines o descreveu como ‘um condutor de valores’. “Japi foi um talento único, que fez uma transição geracional no jornalismo da geração anterior, atualizando o olhar e a linguagem. Uma tarefa essencial, daquelas que tornam uma pessoa perene.”
Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Band, conviveu com Japi em Belo Horizonte e depois foi seu chefe no Jornal da Tarde.
“Quando comecei em Minas, não tive nenhuma dificuldade em encontrar minha referência: era Japiassu, o mais talentoso de todos nós,” disse Mitre, no mesmo Estadão.
Augusto Nunes o chamou de “um repórter de seleção brasileira, admirável domador de letras, capaz de capturar a palavra exata com a naturalidade certeira do sertanejo que laça a rês fugidia. Poucos aprendem a enxergar a fronteira difusa que separa a mordacidade do deboche, o sarcasmo da grosseria sem graça. Japiassu nasceu sabendo onde fica.”
Nos últimos 15 anos, Japi mantinha uma coluna bem humorada em que garimpava erros nas reportagens publicadas.
Era uma forma de rir das nossas próprias derrapadas, e de lembrar que jornalismo é precisão.
O jornalismo — esse mercado de fatos que depende da fé pública, da credibilidade e do suor apaixonado — perdeu um leão.