Um ex-analista de saúde na Constellation Asset Management decidiu deixar a gestora para empreender no setor – apostando num nicho de mercado que recebe pouca atenção no Brasil.

Felipe David, que estava há mais de 10 anos na gestora de Florian Bartunek, acaba de fundar a Bip, uma marca de uniformes para profissionais de saúde.

A Bip está nascendo com apenas dois produtos: o jaleco médico clássico e os chamados ‘scrubs’ – os pijamas cirúrgicos usados pelos médicos durante as operações. 

Felipe respira medicina desde pequeno: é filho de dois médicos, e seu irmão também decidiu seguir a profissão. 

Nesse ambiente familiar, ele sempre achou estranho não haver uma roupa de trabalho para os médicos que trouxesse aspectos de performance. 

“Da mesma forma que não vejo um atleta correr de Havaiana ou um nadador olímpico nadando com uma bermuda de surfe, comecei a me questionar porque os médicos usavam um jaleco que não é impermeável, que não é respirável e que não tem bolsos internos,” ele disse ao Brazil Journal. 

Com a Bip, Felipe está se propondo a resolver esses e outros problemas. O empreendedor passou os últimos seis meses conversando com centenas de médicos e profissionais da saúde para entender como melhorar os jalecos e scrubs

O resultado foram ajustes que parecem pequenos mas fazem muita diferença no dia-a-dia, segundo ele.

“Até hoje não existia um bolso com zíper nos jalecos. Isso é relevante porque quando o médico vai tirar uma aliança, um brinco ou um colar, ele precisa guardar num lugar onde aquilo não vai cair,” disse ele. 

“Além disso, criamos um jaleco ultra leve e com um porta-crachá. No scrub, colocamos um bolso no pescoço para segurar o estetoscópio. Parece besteira, mas se a pessoa fica 12 horas com o estetoscópio no pescoço aquilo começa a cansar.”

A ideia do fundador é vender principalmente no canal B2C – começando pelo ecommerce – e precificar os produtos como premium. A companhia também vai negociar contratos com hospitais e clínicas, mas o fundador disse que as empresas normalmente acabam priorizando custo em vez de qualidade.

A Bip já abriu um cadastro de pré-venda para seus produtos, e o lançamento do site de ecommerce vai acontecer nas próximas semanas. 

A fabricação dos jalecos e scrubs é terceirizada junto a fábricas na Ásia. Felipe disse que procurou fornecedores no Brasil, mas o País não tem fabricantes especializados no chamado tecido ‘plano’ — que não tem elasticidade e é completamente liso, diferente da malha. 

“São métodos de fabricação diferentes, e o Brasil acabou se especializando muito na malharia,” disse o fundador da Bip. “Isso fez com que as fábricas não tenham as máquinas necessárias para fazer bem o tecido plano.”

Felipe disse que o mercado endereçável da startup é relevante: existem 600 mil médicos no Brasil e mais de 250 mil alunos de medicina, um número que vem crescendo 10% ao ano nos últimos 10 anos.  

O benchmark da Bip é a FIGS, uma marca americana que faz exatamente a mesma coisa — vendendo jalecos, scrubs e outras roupas para profissionais de saúde com foco em performance. 

A FIGS faturou US$ 550 milhões no ano passado e já vale mais de US$ 1 bilhão na Bolsa de Nova York.

A visão de longo prazo de Felipe é transformar a Bip numa marca de lifestyle para médicos, dentistas e enfermeiros, criando também uma linha de roupas para o dia-a-dia. 

“Assim como as pessoas saem com uma camiseta da Track & Field no fim de semana, queremos que os médicos possam fazer a mesma coisa com as roupas que eles usam no trabalho,” disse Felipe. 

Ele cita o exemplo da Durable Workwear, uma marca americana que surgiu fabricando roupas para mineradoras e acabou virando marca de moda. 

A Bip ainda não fez nenhuma rodada e, até agora, foi bancada apenas com o capital próprio do fundador.