Ao longo dos últimos 75 anos, o ITA se consolidou como uma das principais universidades de engenharia do Brasil, abastecendo de talentos as fábricas de gigantes como a Embraer e os corredores de boa parte da Faria Lima.

Mas como sucesso passado não é garantia de sucesso futuro… “precisamos de uma visão de muito longo prazo e de um planejamento forte, porque chegamos até aqui com recursos muito escassos,” o reitor do ITA, Antonio Lorenzi, disse ao Brazil Journal.

Um pilar central desse planejamento é o endowment do ITA, que foi criado no início deste ano e já tem R$ 44 milhões em commitments (recursos prometidos).

Desse total, cerca de metade são doações vinculadas a testamentos de ex-alunos, e participações em empresas que vão entrar no caixa do endowment quando houver um evento de liquidez.

12 12 Antonio Guilherme Lorenzi 1 ok

Mesmo nos compromissos de mais curto prazo, nem tudo entrou de imediato. O endowment hoje tem R$ 10 milhões no caixa; o restante será contribuído pelos cerca de 100 doadores-fundadores ao longo dos próximos anos.

A lista de doadores inclui nomes como Walter Schalka, o ex-CEO da Suzano; Gilberto Mautner, o cofundador e chairman da Locaweb; Gustavo Pessoa, um dos fundadores da Legacy Capital; e Conrado Engel, o ex-CEO do HSBC e senior advisor da General Atlantic.

“Para 2026, vamos ter apenas o rendimento dos R$ 10 milhões para investir, o que, considerando um rendimento um pouco acima da inflação, deve dar uns R$ 200-300 mil,” disse Igor Lima, o presidente do conselho do endowment

Mas a meta de longo prazo é ambiciosa. O endowment do ITA mira no exemplo de Harvard, que consegue cobrir 50% de todo o seu orçamento com os rendimentos do fundo. 

“Para a gente chegar a esse nível de representatividade do orçamento, teríamos que ter um endowment de R$ 2 bilhões, que é uma meta nossa bem de longo prazo,” disse Igor. 

“Um dos grandes ativos do ITA é sua marca. [R$ 2 bi] pode parecer muito, mas acho que é factível considerando toda a força do ITA. E o que estamos perseguindo é mudar o patamar de recursos da instituição.”

Como o ITA é uma instituição pública, boa parte do orçamento não passa pelo caixa da universidade. Hoje, a folha de pagamentos do ITA consome cerca de R$ 200 milhões, enquanto há outros R$ 50 milhões que entram na universidade por meio de financiamentos para pesquisas de órgãos como a FAPESP, CNPQ e FINEP. 

O que o ITA tem livre – para investir em infraestrutura, laboratório e outras melhorias – são apenas R$ 5 milhões. 

“O fundo daria uma flexibilidade enorme para investirmos no futuro da instituição,” disse o reitor. “Se chegarmos a R$ 500 milhões em 10 anos, isso já daria uns R$ 30 milhões por ano em rendimentos, que poderíamos usar para melhorar infraestrutura e potencializar a pesquisa na universidade.”

Inicialmente, os recursos do endowment serão usados para turbinar iniciativas que já existem, como o programa de bolsas para alunos em situação de vulnerabilidade e o apoio à iniciativas técnicas dos alunos, como as competições de robótica, foguete e de matemática. 

O endowment também quer apoiar as pesquisas de alunos e professores, buscando aumentar a produtividade e a representatividade do conteúdo gerado pelo ITA a nível global. 

“Queremos aumentar a quantidade de artigos, mantendo a qualidade, num nível comparável ao do Caltech, que tem um tamanho parecido ao do ITA,” disse o reitor. “Temos uma análise do custo das nossas pesquisas por publicação em periódicos triple-A e o nosso custo já é metade do Caltech. Então já temos uma eficiência muito grande na geração das pesquisas. Se alocarmos recursos nos lugares certos, nas pesquisas que vemos mais potencial, podemos aumentar muito o volume, e com qualidade.”

Outro objetivo é atrair professores internacionais pelo programa de cátedras, financiando, por exemplo, a vinda de professores por um período ministrar palestras, aulas e até criar grupos de pesquisas.

“É uma maneira de trazer competências que você não tem e de aumentar o impacto das pesquisas. Quando nossos professores fazem colaborações internacionais, o impacto é duas vezes maior,” disse Lorenzi. 

Com o tempo, o endowment também pode ajudar nos planos de longo prazo do ITA. 

Recentemente, a instituição anunciou que vai abrir um novo campus em Fortaleza, focado na engenharia de energia e bioengenharia.

A visão de longo prazo do reitor é replicar esse movimento em outros Estados e, futuramente, abrir uma primeira unidade da universidade fora do Brasil.