A Unifique — o segundo maior provedor regional de fibra óptica do Brasil — está vindo ao mercado com um IPO que pode levantar perto de R$ 1 bilhão para financiar seus planos de expansão em meio à concorrência crescente com as grandes operadoras.
A Unifique opera em 143 cidades e atende 350 mil clientes do Sul do País. Nos últimos três anos, o faturamento da empresa aumentou a uma taxa média de 65% ao ano, chegando a pouco mais de R$ 300 milhões nos 12 meses finalizados em março.
A oferta está sendo coordenada pela XP (líder), BTG Pactual e Itaú BBA. A princípio, a captação será 100% primária, mas poderá incluir também uma parcela secundária dependendo da demanda.
A expectativa é lançar a oferta em junho e precificá-la em julho.
O IPO da Unifique é o primeiro de um provedor regional, numa fila que inclui a BrisaNet — o maior do setor e focado no Nordeste — e a EB Fibra, uma história de consolidação que começou com a compra da Sumicity pela gestora EB Capital.
Os provedores regionais estão buscando se capitalizar para competir num cenário em que as grandes operadoras começam a atacar o seu mercado.
Na semana passada, o CEO da Vivo, Christian Gebara, disse num evento da XP que o “jogo mudou” em relação à competição com os provedores regionais. Segundo ele, a operadora está começando a levar sua oferta de fibra óptica para cidades com 100 mil habitantes — onde antes operava apenas com cabo de cobre e ADSL. Além disso, a Oi está colocando ordem na casa e se prepara para atacar o mesmo nicho.
As teles dizem que os provedores regionais não tem capilaridade, pecam na qualidade e são muito agressivos em preço, mas investidores que conversaram com a Unifique dizem que a companhia é um animal diferente.
O CEO Fabiano Busnardo tem dito a investidores que a Unifique é mais competitiva justamente nos planos mais caros, e aposta num atendimento rápido e próximo do cliente, enquanto, segundo o CEO, as teles ainda têm “DNA monopolista”, herança de uma época em que o consumidor não tinha escolha.
Ele também tem relativizado a capacidade das teles de concorrer em seus mercados, que incluem cidades médias e grandes.
Por não ter que manter tecnologias legadas — já que toda sua rede é de nova geração — a Unifique consegue passar a fibra nas cidades e conectar os clientes com um custo menor, enquanto as grandes telecoms têm que substituir seus fios de cobre, o que leva tempo, custa muito caro e, na maioria dos casos, troca seis por meia dúzia em termos de receita. Para a Unifique, cada fibra passada é receita nova na veia.
Dos 32 milhões de clientes de banda larga no Brasil, metade ainda é atendida por fios de cobre (par metálico ou cabo coaxial).
A maior eficiência de custos permite que a Unifique tenha uma margem EBITDA histórica de 55%, enquanto Vivo, Claro e Tim têm margens em torno de 40%.
Como a Unifique tem margens altas e otimiza sua rede (ocupando a capacidade e gerando receita rápido), seu retorno sobre o capital investido (ROIC) chega a 25,5%, substancialmente maior que os cerca de 13% da Tim, 8% da Vivo e o ROIC negativo da Oi.
Nos últimos três anos, a Unifique mais que triplicou seu capex (de R$ 40 milhões para R$ 137 milhões), mas manteve sua alavancagem sob controle: menos de 1x dívida líquida/EBITDA.
Fundada há 24 anos por Busnardo — um ex-faccionista da Hering apaixonado por seu negócio — a Unifique começou vendendo ‘acesso discado’ para alguns poucos clientes em Timbó, hoje uma cidade catarinense de 44 mil habitantes e terra natal do fundador.
Logo que surgiu, a empresa passou por dificuldades financeiras e Busnardo foi bater na porta de Clever Mannes, na época dono de uma das maiores lojas de computadores da cidade. Clever investiu R$ 80 mil e hoje é dono de 37% da empresa.
Em reunião com investidores, Busnardo disse que por mais de 10 anos a Unifique reinvestiu toda sua geração de caixa, “não tirando dinheiro nem para a gasolina do carro,” e “pagando os fundadores com apenas dois salários mínimos.”
O ‘voto de pobreza’ deu resultado.
Em Santa Catarina, a Unifique já é o segundo maior player em números de conexões, atrás apenas da Claro/Net. Considerando apenas fibra óptica, é líder disparada com 24,5% de share.
Parte do crescimento veio de aquisições. Só nos últimos dois anos, foram 16 que ajudaram a empresa a triplicar de tamanho. Na última delas, a Unifique acaba de comprar a NajaTelecom, o maior player da Serra Gaúcha com 31 mil clientes em 16 cidades, marcando sua entrada no Rio Grande do Sul.
Os recursos do IPO são para fazer mais do mesmo: financiar a estratégia de consolidação no Sul, uma mistura de expansão orgânica do backbone e aquisições de pequenos provedores.