Com a Eletrobras finalmente privatizada e o nome dos prováveis novos conselheiros na mesa, o sellside começou a rever seus modelos para refletir a nova realidade da empresa.

O JP Morgan e o BTG Pactual iniciaram hoje a cobertura da ex-estatal com preços-alvo de R$ 64 e R$ 62, um potencial de alta em relação ao preço de tela de 46% e 41%, respectivamente. 

(No cenário mais otimista do JP, o papel poderia valer R$ 88, quase o dobro do que vale hoje.)

O JP disse que a Eletrobras é seu ‘top pick’ no setor já que ela “tem tudo”: valuation atrativo, triggers de curto prazo, liquidez e uma tese ESG por trás. 

Para o banco, há sete drivers principais para a empresa nos próximos 12 meses: a migração para o Novo Mercado; a definição da estratégia corporativa, da alocação de capital e da política de dividendos; os novos números financeiros mostrando o impacto da privatização no balanço; a melhor gestão dos passivos; a reprecificação dos contratos de energia; cortes de custos; e as eleições presidenciais. 

O BTG disse que a Eletrobras é uma das empresas mais baratas da cobertura do banco e que, nos preços atuais, a ação precifica muito pouco de seu potencial como empresa privada.

“A combinação de uma base de acionistas muito boa e ativa com uma equipe de gestão de alto nível vai pavimentar o caminho para uma história bem sucedida de turnaround, aumentando significativamente a geração de caixa da companhia e permitindo que a empresa pague grandes dividendos e/ou aumente seu poder de fogo para novos investimentos.”

Nas contas do BTG, a Eletrobras negocia a uma taxa interna de retorno de 13,5% e  6,4x EV/EBITDA – ambos para 2023. Para efeito de comparação, a média do setor elétrico é uma TIR de 10% e 16,6x EV/EBITDA. 

Como a companhia precisa entregar o turnaround, o BTG não espera nenhuma aquisição relevante no curto prazo – o que deve se traduzir em dividendos gordos.

Nos preços atuais, o banco estima um dividend yield de 12% para 2023, 18% para 2024 e 22% para 2025. 

Outro ponto essencial para a tese da Eletrobras é o corte de custos que a empresa vai implementar para se aproximar dos níveis de eficiência das empresas privadas. 

“A magnitude e a velocidade desse corte de custos vai ser monitorada pelo mercado e pode ser uma importante fonte de upside ou downside,” escreveram os analistas do JP.

Para eles, a companhia pode cortar as despesas de SG&A em até 40%, já incluindo a desconsolidação da Eletronuclear. 

O JP foi mais agressivo na projeção, estimando uma redução de 60% nas despesas ao longo de três anos. Essa redução é a principal fonte de criação de valor para a tese de investimentos pós-privatização, adicionando R$ 16,90 por ação ao preço-alvo. 

Hoje, as despesas da Eletrobras são de 2x a 3x maiores que as de seus peers privados, nas contas do BTG. 

“Na nossa visão, os ganhos de eficiência não virão apenas da privatização, mas também dos ganhos de escala e sinergias, já que a companhia é dona de 25% de toda a capacidade de geração do Brasil e de 45% das linhas de transmissão,” disseram os analistas do BTG. “Ela pode até ‘outperformar’ os peers privados depois do turnaround.”